Onde foi parar a minha esperança?*
Após uma hora dentro de um banco sem conseguir ser atendido, saio um tanto desapontado.
Viro a esquina e um casal jovem e muito simpático me chama (mais precisamente o rapaz), logo após eu passar por eles, oferecendo-me trufas que tiram de uma bolsinha térmica verde que ele trazia pendurada no pescoço.
Ele tinha cabelos encaracolados castanho-claros e ela também, só que mais compridos. Os dois eram mais baixos que eu (menos de 1,75m), de rostos tristonhos mas profundamente honestos e gentis.
Disse ele a mim: “Senhor, você gostaria de ajudar um jovem casal comprando nossas trufas…” e ainda disse outras coisas que eu não lembro sobre sonhos e tal.
Disse eu, acidamente, no alto dos meus desapontamentos com o banco e com esse país em que até o subemprego é gourmetizado e vira “empreendedorismo”: “Você acredita mesmo nisso?”.
Respondeu perdido o rapaz, enquanto a moça me olhava com um sorriso amarelo: “Como?”. Repeti a pergunta adicionando ainda mais ácido sulfúrico a receita: “Você acredita mesmo que esse negócio de vender trufas na rua vai mudar alguma coisa?”. Ele respondeu que sim.
E aí, eu falei que não acreditava neste tipo de negócio, enquanto uma saída, para nada, solução para nada e, ao mesmo tempo, lá dentro de mim, eu tinha uma espécie de saudade da inocência daqueles dois, ou talvez tivesse apenas saudade da esperança deles. De uma esperança tão singela que cabia dentro de uma bolsinha térmica verde.
E eu me perguntei por horas e horas daquele dia, arrependido até a alma por aquele ato que beirou a crueldade: “onde foi parar a minha esperança?”
Jefferson Farias
*Publicado originalmente em https://ocronistainutil.wordpress.com/2020/02/11/onde-foi-parar-a-minha-esperanca/