ELA VESTE VERMELHO

Petra Andrade Gutierrez foi perder o Oscar de vermelho. Naturalmente, essa foi a notícia - uau, que corajosa, que empoderada, que feminista, que anti-Bolsonaro, que a-favor-da-construção-civil, a Petra Andrade Gutierrez foi de vermelho!

Podemos aprender muito com essa notícia do red carpet se pensarmos um pouco acima de gente com coluna no UOL. É sério. Observe.

Petra Andrade Gutierrez foi de vermelho PT? Foi com camiseta fedida da CUT? Foi com um pano todo escangalhado do MST? Não, A Herdeira foi com um PUTA VESTIDO vermelho que só a nata de Hollywood - e, claro, os donos da Andrade Gutierrez - podem pagar.

Não é pra você, ô lacrador do textão morando em Franco da Rocha porque o seu pai passou a vida pagando aluguel pra gente ligada à Petra e não pode desfrutar de uma economia livre - enquanto você taí, achando o máximo A Herdeira que não filma a Paulista no impeachment com ângulo aberto usando vermelho.

Não é pra você, universitário Elenão falando gíria na aula de jornalismo e fazendo tatuagem que ficará brega em 2 meses que acha que Lula tá preocupado com gays, enquanto a andradegutierrezinha esconde a facada no Biroliro no seu filme com voz sonífera.

Não é nem pra você, hipster antenado indo tomar café da manhã vegano de R$ 80 de chinelo todo dia, crítico da falta de fomento às artes e puto com o dólar a R$ 4,70 porque zoou sua segunda ida a Nova York esse ano, enquanto a patricinha preocupada com a democracia inventa história sobre seus pais e apaga armas nas mãos de comunistas no regime militar.

Não: é vestido pra elite da elite, classe AAA+, sabe aquele 1% do Occupy Wall Street? Então, é o 1% do 1%, la crème de la crème de la crème, é pras pessoas que não têm conta bancária - têm PIB. É pras famílias que não visitam uma ilha menor do que a Austrália sem terem sido convidadas pelo dono - A Riqueza das Nações não fala do seu iPhone parcelado em 24x e do carro que você comprou quando fez 30 e ganhou um aumento, isso aí é o que essa turma gasta mensalmente na floricultura com o jardim dos fundos, parceiro.

E sabe por que o Brasil 247 não acha um absurdo? Sabe por que o site da CUT não tá pregando revolução comunista na casa da Petra Andrade Gutierrez? Sabe por que a Luciana Genro não tá vociferando contra o grande capital e a concentração de renda nos muitos zeros à direita da hollywoodiana que fala que Bolsonaro virou nos últimos dias por causa de boatos com rituais satânicos com Manuela Dávila?

Exatamente: PORQUE ELA USA VERMELHO.

Não vermelho CUT com cheiro de suvaco, nem um boné do MST lá no Oscar. Vermelho estilista sul-africano, nem a Gilma Rocefe usou isso.

Enquanto os alienados desses movimentos acham mesmo que seus líderes querem aumentar os salários dos trabalhadores (duvido que o presida da CUT não tenha o Zap de Petra, A Herdeira, pra resolver a parada em uma única mensagem de voz sem sentir perdigotos), tudo o que os ricaços do Brasil de fato precisam fazer é usar vermelho e fumar bagulho - dar a bunda também ajuda.

Pronto! Serão adorados pelas massas ignaras!

Enquanto ainda pensamos na esquerda em nível classista (como se tivesse existido burguesia no Brasil, por exemplo), a esquerda atual pensa em termos identitários já há muito.

O moleque pernóstico que tá no segundo ano de História, já filiado ao PSOL e fazendo “greve” pelo fim da desigualdade social, nunca criticou Petra Andrade Gutierrez por defender um sistema em que contratos do governo PT favoreceram sua família (a dela, não a dele) - não, ele só quer que A Herdeira vista vermelho e FALE contra a concentração de renda - problema que ela própria poderia resolver com um simples cheque para nós, working class heroes of the day.

Marx chamaria isso de alienação. Falta de consciência de classe. Mas a turma pós-Foucault acha que só precisa de um vestido vermelho.

Nem vai reclamar da ausência de negros e índios produzindo o filme que só mostra dona mamãe Andrade Gutierrez reclamando de como não tá com tantos contratos via Petrobras depois que descobriram o petrolão, coitada.

Arrasou, amore, sambou na cara da sociedade patriarcal de vermelho. Ou as gírias já mudaram de 2 anos pra cá?

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Flávio Morgenstein
Enviado por Israel Rozário em 10/02/2020
Código do texto: T6862648
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