ELES NÃO SÃO A MAIORIA; MAS...
Como teria dito Freud, “as massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões, e não vivem sem elas”.
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Em mais um teste de aceitação da população brasileira aos ideais nazistas, no último dia 06/02, o Governo de Rondônia (sob o comando do Coronel Marcos Rocha), através de sua Secretaria de Educação, determinou o recolhimento (uma queima metafórica) de 43 títulos de livros – a maioria de autores brasileiros comumente requisitados em vestibulares e concursos.
Como de costume, ao ser confrontado pela Imprensa, o Governo recorreu às táticas empregadas, desde sempre, por sua referência maior, o Governo Federal: disse tratar-se de erro, descontextualização por parte da Imprensa, perseguição da oposição, operação demoníaca (como no caso do vídeo de Alvim, segundo o próprio)... e por aí vai.
Os nazistas alemães sabiam da queima de livros pelos inquisidores católicos no século XVI (e do que se sucedeu a ela). Os neonazistas brasileiros sabem da queima de livros pelos nazistas alemães no século XX (e o que se sucedeu a ela).
A questão não é ignorância; é mau-caratismo mesmo!
As constantes investidas – desde a campanha eleitoral/2018 – para cercear livros e pensadores contrários ao poder totalitário e dogmático (seja de que corrente ideológica for) apenas se intensificaram após a posse dos novos eleitos, tanto em Brasília como no DF e nos Estados. Mas isso não é casualidade; é um projeto. Aliás, antigo, e, pior, nem se pode dizer que revestido de algum novo disfarce. As únicas diferenças são, além dos protagonistas, a época e o local.
Uma pergunta aparentemente óbvia é: se o povo sabe o que tudo isso representa, por que não reage? Simples: o povo jamais tem iniciativa – embora muitas manobras bem elaborada por quem o manipula muitas vezes ganhe tal conotação.
Como teria dito Freud, “as massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões, e não vivem sem elas”.
De fato, a imensa maioria do povo brasileiro, por sua profunda ignorância, não tem ideia do que está acontecendo. Mas seus representantes sabem muito bem. Não se trata de casualidade, mas de um projeto. Não, nem de longe, é casual que as classes (alta e média) que levaram milhões às ruas do País para “exterminarem a corrupção e a imoralidade política e social” sejam incapazes de se indignarem contra situações tão graves quanto o mais que estas, como: a crescente personalização e dogmatização do Estado, a permanente insistência do presidente em governar por decretos, esvaziar os órgãos de controle e de participação popular (como os conselhos), clara intervenção no Judiciário para proteger familiares e amigos, criminalização do trabalho da Imprensa e de manifestações populares, inviabilização de funcionamento de todas as organizações sociais não patronais, como sindicatos de trabalhadores e movimentos estudantis, perseguição, desqualificação e criminalização de professores, intelectuais, artistas e/ou qualquer crítico não simpáticos ao Governo, e a clara e manifesta intenção de controlar a cultura, a religião, a família e, por que não, até a sexualidade dos indivíduos – nada diferente dos inquisidores medievais e/ou dos nazistas modernos.
Não é casualidade. Projetos como os das inquisições (pois a católica não foi a única) e do nazismo na Alemanha ou do stalinismo purgativo na URSS, não resultam de ignorância apenas; mas, acima de tudo, do mórbido e sádico desejo humano de aniquilar o diferente, de ser único e absoluto – o desejo luciferiano de “ser como o Altíssimo”.
É verdade que os adeptos conscientes do projeto em curso no Brasil não são a maioria. Não deveríamos ignorar, no entanto, que eles a representam e a manipulam.
A única alternativa não traumática de reverter tais situações é a formação crítica da população; e a maneira mais eficaz de a consegui-la é através dos livros.
O mundo – principalmente o do poder – nunca, jamais, seria o mesmo depois da irreverente e insolente invenção de Gutemberg.
A partir de então, todas as revoluções, antes de serem vencidas pelas armas, foram garantidas pelas letras. Foi assim com a Reforma Protestante de Lutero, com o Iluminismo, que gestou a Revolução [burguesa] Francesa, bem como a estrondosa recuperação da nação japonesa – que, segundo nosso presidente, “(...) é uma raça superior; e nós, todo o resto, somos inferiores” – após seu completo arraso na II Guerra Mundial, para citar apenas alguns exemplos.
Para imbecilizar (e, depois, manipular) o povo, discursos vazios, descontextualizados e clichês estereotipados, com a ajuda de robôs virtuais são mais do que suficiente. Para fazer o contrário, os livros continuam sendo ferramenta indispensável. E todo detentor de poder sabe disso.
Segue a marcha!