A CULPA E A CONSCIÊNCIA.

Em maravilhoso livro, como próprio daqueles que se santificaram pela verdade, Santo Agostinho nos fala sobre a “NATUREZA DO BEM”. Os ensinamentos do Bispo de Hipona não nos chegam de um dos incontáveis intelectuais espalhados pelos tempos e pelas eras, mas de um mestre de retórica e um amante da sabedoria. É da cepa das grandes árvores que nos são servidos os frutos mais saborosos, um grande orador se ouve com prazer, o sábio com proveito.

Em seus escólios, Santo Agostinho, “cristão com alma purificada pelos açoites da contrição, pelo sentimento de culpa pela ofensa a Deus” e pela necessidade da Graça, nos fala sobre a culpa. A mesma que muitos praticam e perseveram na culpa reiterada, cimentados seus pilares na defesa do mal que fizeram.

Quantos caminham por essa vida terrestre entre culpas e alguma consciência, ou nenhuma. Entre penas e vontades manifestadas no mundo exterior, lá está a culpa a esperar a pena sob coerção ditada pelos Estados. E mesmo mitigadas se executam. Mas há também e intensamente a consciência negativa, não que seja inconsciência agregada ao incapaz civilmente, mera patologia, mas a obstinada reiteração da defesa do mal feito que se quer não culpável, sob nada que justifique, nem mesmo o velho maquiavelismo “os fins justificam os meios”, pois o mal não é necessário como ensinava Tomás de Aquino.

Falamos daquela culpa que além de não obter arrependimento, vocifera e expele marimbondos, cuspindo drogas e impropérios, rechaçando a mais clara existência de culpa danosa, ruinosa, comprometedora até mesmo de uma nação, de toda uma coletividade. Mas esta mesma sociedade enganosa e enganada acorda pelo sopro da realidade escancarada, e expurga de “moto próprio” os feitores e engenheiros da culpa. A América Latina é teatro desses enredos.

A justiça é cega para ser isenta, como de sua origem, ceguidade filosófica dita por Padre Vieira e outros, mas não é tão pura assim, logo que muitas vezes seus gestores ficam cegos para a obviedade fisicamente, para a culpa gritante e incontornável que a mesma justiça revela, mas que alguns querem cobrir com um véu que deixa à mostra a culpa flagrante por ser incontestável, emergindo do mar revolto de provas em tsunami avassaladora que demonstra o dano.

O nosso norte agora declinado em seus escólios é de Santo Agostinho, “cristão com alma purificada pelos açoites da contrição, pelo sentimento de culpa pela ofensa a Deus” e pela necessidade da Graça, a mesma que muitos dela se distanciam e perseveram na culpa reiterada e cimentada na defesa do mal que se fez. Como demônios vagam expelindo e excretando essa desordem espiritual em meio às suas tormentas com o viés permanente de implantar a discórdia nascida de suas culpas.

A culpa está presente em todas as culturas humanas, na helenista clássica indica a consciência efetiva de uma falha e também a perturbação de uma ordem existente que deve ser restabelecida pelo sofrimento expiador. Execrada pela cultura contemporânea, considerada a raiz de traumas de ordem psíquica ou conseqüência de uma estrutura de pressão de estruturas sociais, nas mãos de poucos residem as culpas e responsabilidades de maior intensidade. Funcionam como gravames de ordem social de latitude e longitude inimagináveis. É difícil medir o estrago dessa ordem de culpas.

O signo de uma personalidade madura sabe identificar o bem e o mal. “Conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres”; (João, VIII, 32). “Quando alguém elege o erro – e nisto reside finalmente o pecado – optando por um bem menor em detrimento de um mais excelente, está exercendo a faculdade do livre-arbítrio, de escolha. Pelo mau uso desta (que é boa em si mesma) o homem é capaz de escravizar-se, viciar-se, corromper sua natureza intelectiva e volitiva. Assim diz Jesus no mesmo Evangelho de São João: “Quem comete um pecado é escravo do pecado”. João VIII,34. Santo Agostinho.

O vício é paixão que subjuga a razão, o vício pelo mal no exercício do Poder enraíza no feitor do mal o gosto do que para ele seria bom, na sua ótica exculpável para ele pela paixão, culpável para a ordem universal sacralizada.

Como dizia Nietzsche, “Que é a felicidade? O sentimento daquilo que aumenta o poder, de haver superado uma resistência;não um contentamento, mas um maior poderio; não a paz em geral, mas a guerra; não a virtude, mas a habilidade”.

Esse culpado se acha feliz sob essa capa falsa que veste no séquito de seguidores da malta de mesma linha. Ninguém acorda para o arrependimento. Difícil reconhecer erros, isso é para os fortes, os covardes se agacham para espreitar como cobras o momento do bote.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 08/02/2020
Reeditado em 09/02/2020
Código do texto: T6861144
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