MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA PARA DESCASADOS
Você é solteiro ou descasado? Este texto é para você, que enfrenta as vicissitudes da vida em vôo solo. Não que eu goste disso, mas faz parte da vida. Em muitas ocasiões me encontrei nesta situação. Não estou falando da solidão ou dos devaneios poéticos advindos dessa condição e sim, das pequenas coisas do cotidiano. Sim, estou falando de lavar louça, lavar roupa e passar pano. Coisas aparentemente simples. E o piór, é que a gente fica à mercê dessas máquinas malucas e temperamentais.
Falo da máquina de lavar, do microondas, do aspirador e da geladeira. Estas geringonças deveriam vir com operador. Elas, quando muito, apareceram lá em casa acompanhadas de um singelo folheto, dizem auto-explicativo, absolutamente ininteligível. Mais parece grego. Sinceramente, quase fiquei com inveja das mulheres que lavam roupa na beira do rio. Além da paisagem, infinitamente mais interessante na beira do rio, em relação à área de serviço, existe o fato de que a água lá é corrente. Na máquina a água está lá, parada, e se você erra a quantidade de sabão, além de não enxaguar direito ainda vai sair espuma pela tampa. Nada mal, se você aproveitar para limpar o chão em seguida. Mas, em hipótese alguma, deixe a sua máquina sozinha enquanto lava roupa. Aparentemente, estas máquinas foram feitas para facilitar a vida e para que você possa fazer outra coisa enquanto ela (a máquina) trabalha. Na teoria, nenhum reparo. Na prática, um tremendo desastre. Imaginem vocês que deixei a minha máquina só. Ela derramou toda a água do molho em pleno chão. Ninguém me avisou que ela resolve tremer e que nesse processo, o cano sai da parede. Me senti um pato e só pude gritar: Quack!
Caso esteja com fome, o microondas chegou para transformar a sua fome em pesadelo. Os botões não obedecem e a comida ou sai dura que nem pedra ou te queima a boca. Eu digo que é melhor ir no buteco da esquina, pode acreditar. Comprei até um livro de receitas elaborado exclusivamente para o tal aparelho revolucionário. Apanhei feito um condenado e a comida nem o cachorro quis. Eu entendo razoávelmente de me alimentar e cozinhar, mas estou sériamente propenso a só comer comida que possa ser ingerida crua. Não tenho tempo para elaborar pratos sofisticados ou não; e cozinhar (no fogão) para uma só pessoa é ato de bravura e devoção. Achei que a comida congelada pudesse ser a solução, mas, aparentemente, só serve para tacar na cabeça de algum ladrão, que desavisado ronde meus domínios.
Outro aparelho dos mais estranhos é a geladeira. Primeiro que ela transforma, sabe-se lá de que maneira, um gás que circula em ambiente hermético, em gelo. Só por Deus! Mas um belo dia ela resolve que não vai mais gelar nada e, para alegria dos vizinhos, decide botar o gelo, em forma de água, pela porta a fora. A água, que não é boba nem nada, vai escorrendo pelo chão até sair por baixo da porta de seu apê. Quando você chegar em casa à noite, vai descobrir, já pelo porteiro, do que o espera. E na ânsia de resolver, ao entrar pela porta e antes de acender a luz, você já voou longe por conta da fantástica combinação de chão molhado e sola de borracha. Um espetáculo. Conseguir a presença de um técnico, é outro tormento. E, quando vem, faz a maior sujeira só para trocar o tal gás. Uma sofisticada operação mambembe, isso sim.
Quando me falaram da máquina de lavar louças quase tive um orgasmo. Cheguei a mandar rezar missa para o inventor dessa geringonça. Mas, descobri depois de possuir vários modelos, que a ditacuja nada lava. Na verdade espalha os restos de comida do prato para a chicara e assim por diante. Me explicaram que era necessária uma espécie de pré-lavagem. Comprei luvas e escovinha. Nada mais ridículo. O que acontecia era que eu estava usando a máquina como escorredor e mais nada. Desisti desse aparelho e hoje lavo minha louça na mão, após acumular todos os utensílios possíveis na pia, sujos é claro. Esta relação estranha que tenho com a louça me fez doar quase todos os meus pratos e talheres. Assim, tendo poucos, não me preocupo ao ver que não tenho mais nenhuma colher limpa. Trata-se de uma operação rápida e segura, pois hoje só possuo três de cada coisa.
Quase ia esquecendo do aspirador. Já experimentou lidar com uma coisa dessas? Pois bem, além de fazer um barulho danado de ensurdecedor, às vezes ele deita toda a poeira que tem dentro, pelo cano afora. Nunca entendi como, mas que faz, faz. De resto é um aparelho amigo, pois evita aquela sensação de desenho animado, em que tem arbustos redondos levados pelo vento. A poeira é prodigiosa e rápidamente se transforma em pequenos novelos e vai passear pela casa. Chame o aspirador, que ele resolve. Agora, preste muita atenção ao trocar o saco que tem dentro. Você pode botar a perder horas de seu lazer, na lida de suas conseqüências.