Não saciaremos toda a fome do mundo. Não ofereceremos todos os afetos necessários. Não cumpriremos todas as promessas, não atingiremos todos os desejos. A vida pode cursar um atalho ou um desvio. Um descaminho. 

Uma bagagem extra e pesada. Existir, refletir, sentir dores físicas e emocionais. Sabemos bem pouco de tudo, quase nada. Tudo é improvável e infinito. E, a parte atemporal persiste no limbro da memória, nos monumentos e, ainda, nos vestígios grafados em livros e poemas corruptos.

Poemas que desejam ser recitados. Frases que pretendem ser inesquecíveis. Mas tudo fenece.  Inexoravelmente. O inédito, o genial, o comum e o bastardo.

O sucesso exitoso surge após várias tentativas e por uma insistência que aprimora gestos, entendimentos e saberes. Mas, infelizmente, nem tudo é possível, contaminar as pessoas com uma consciência ecológica, infectar o vírus da democracia em religiosos autoritários ou políticos totalitários. Humanizar aqueles seres que se julgam superiores, veradeiros princípes das Astúrias, capazes de decepar qualquer cabeça por mero capricho ou vaidade.

Não é possível legar humildade àqueles que receberam o mundo numa bandeja de prata e contextualizado com toda pompa e circunstância. Não é possível fazer um ser honesto, se toda sinceridade do mundo é taxada de politicamente incorreta. Afinal, é jogar pérolas aos porcos, não é bom nem para os porcos e nem para as pérolas... Isso, sem contar, o significante disperdício da superação da ostra, que engoliu um grão de areia e o transformou em pérola.

Ouvimos mil vezes "não"... Outras tantas vezes, "talvez"... E quando finalmente há assertiva positiva, não estamos suficientemente preparados para dita empreitada. Tem dias cansativos demais. Que as retinas cansadas se entortam... Que o cristalino perde o brilho e o infinito fica parecendo um pequeno hífen a tentar conciliar paradoxos instransponíveis.

Tem dias que a palavra esperança é utópica. E, por vezes, mentirosa. Pois diante do abismo, da decadência explícita de costumes e valores. Nos questionamos, baixinho: - O que nos resta? É o apocalipse, sem "the end".

Nossos corpos montados sobre 206 ossos, dotados de 650 músculos e com setenta trilhões de células é algo perfeito, porém, também é frágil. Somos homo sapiens sapiens, no fundo, precisamos apenas  ter a paciência de Jó.
 

 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/02/2020
Reeditado em 05/02/2020
Código do texto: T6859064
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