Cabaré

Anos 1970 – nesse tempo, até 1977, 1978 – Belém era cidade de médio porte, se comparada a capitais como Recife, Salvador, Belo Horizonte, SP, RJ – e outras.

Para os farristas havia diversas opções, as chamadas “boites”. Muitas no centro da cidade, outras espalhadas nos bairros periféricos.

Eram antros com meretrizes – claro, estas ali estavam para ter “o pão de cada dia”, faturar.

Vejam vocês, entra século, termina século, e a profissão (prostituição) permanece, firme e forte. Seja em países pobres, seja nos ricos.

Agora são chamadas de “garotas de programa”. Algo menos discriminatório, mais cidadão.

Nos países ricos também tem pobreza. A causa: concentração da renda, como nos pobres.

Local marcante (prostituição) foi a Condor, um bairro da cidade, de moradores de baixa renda.

Nele ficava a Praça Princesa Isabel.

Aí as “piranhas” faziam ponto. Dois bares famosos à disposição da clientela – o São Jorge e Palácio dos Bares.

Tinha outras biroscas.

Falando em farra, prostíbulos, mulheres, a vocês contarei uma história, real, verdadeira. Fui a um desses antros com um amigo, de apelido Zeca.

Cidadão “maneiro”, simpático, boa praça.

O nome do cabaré: Zorra. Sentamos à mesa, bebemos cerveja. Música, animação. E mulheres.

Bebemos umas seis cervejas. O amigo, eufórico, empolgado, chamou uma mulher.

A dama veio, sorridente.

Conversaram. Acertaram o programa, foram ao reservado, o quarto.

Fiquei lá, sentado, a saborear a cerveja. Curtindo aquelas músicas de cabaré. Só eu.

Pensei chamar uma companheira – tinha várias à disposição. Não chamei, faltou-me coragem, disposição.

O antro estava movimentado.

O tempo correu. Ele volta, com a mulher ao lado. Sentou-se, a jovem prostituta lhe diz: ---- Tudo bem, amor, vou pra lá, com as amigas.

---- O nome dela é Fátima, o amigo me informou.

Era uma morena, cabelos pretos, lisos. Ela bem sorridente, espontânea – não importa se prostituta, não.

Pagamos a despesa, fomos embora, cada um para sua casa. Alguns dias depois o encontrei.

Ele disse: ----- Lembra daquela mulher, lá da Zorra, a Fátima?

Respondi: ----- Lembro sim, a morena sorridente. O que houve? Uma amiga dela, de lá da boate, contou-me que ela morrera num acidente.

Saiu com um cliente num carro. O veículo bateu num poste.

Senti compaixão dela, daquela jovem meretriz, de baixa estirpe, um ser humano, filha de Deus como eu, você, nós todos.

Não tinha nada, o que tinha era a vida. E a perdeu antes do tempo, jovem ainda. Isso me entristeceu bastante - e não sei por que senti no coração a morte dela.

Não sei....

Salatiel Hood
Enviado por Salatiel Hood em 05/02/2020
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