100% de qualquer coisa é zero
100% de qualquer coisa é zero
- Estamos prontos doutor?
- Sim senhor. Tomos os preparativos arrumados...
- E os garotos?
- Separados por uma parede de concreto e aço, a prova de som. As perguntas serão feitas através de um microfone e será ouvida ao mesmo tempo nas duas cabines.
- Ótimo... Porém – continuou o moço alto e elegante – o senhor sabe meus motivos. Estou em desvantagens aqui, quais os seus? Os dois pensam ser uma simples entrevista para minha empresa, nenhum sabe da presença do outro. E ambos esperam que eu entre para iniciar o processo.
- Meu caro, o senhor deve saber que eles são gêmeos.
- Com toda certeza.
- Não apenas isto.
- Não entendo.
- Eles são gêmeos e...
- E? Continue!
- Bem... Conhece a história falada em gerações, à respeito dos gêmeos?
- Da ligação? Que...
- Sim, sim. Quando um chora, o outro também sente a vontade; quando um faz sexo com a namorada, o outro fica sexualmente excitado por motivo algum... Mas eles... Eles são diferentes, a ligação é fantástica. Eles são iguais, extremamente iguais.
- Iguais e extremamente iguais?
- Iguais e EXTREMEMENTE iguais.
- Extremamente?
- EXTREMEMENTE! Os pais tiveram um dedo na história... A mãe deles me avisou de uma única diferença... Achei estranho, mas...
- Qual? Vamos, doutor, fale!
- Robert é exibido, gosta de mostrar ser superior em tudo. Tem esse desejo em um nível dominador dentro dele...
- E o outro, George, é o completo oposto. Acertei?
- Exato!
- Estou curioso. Qual o limite desta ligação?
- Eu lhe digo, “chefe”, suas notas escolares e de ensino superior, na mesma universidade, eram as mesmas, quando os testes se igualavam para tal.
- Nossa!
- O que quer fazer?
- Apenas observar. Faça sua entrevista daqui de dentro e eu os estudarei.
- Está bem.
- Olá, senhores – Começou, mas logo foi interrompido com a voz dos dois.
- Senhores? Quem é? Com quem está falando? Aqui só tem George/Robert. Espero o senhor Benjamim para uma entrevista.
Os irmãos respondiam as mesmas palavras em um sincronismo notável.
- Me desculpe o meu erro, meu jovem. – Falou o empresário enxugando o suor que descia e encarando o olhar de reprovação do psiquiatra. – Eu sou Benjamim, e este é o nosso novo método de pesquisa. Concorda em começarmos?
- Sim. Claro. – Disseram os dois juntos.
- Me falem... FALE... como foi sua vida na escola e na universidade. E suas notas.
- Eu adorava estudar. O mano e eu nos damos muito bem e sempre passamos pelos mesmos caminhos... – À partir daí, suas palavras mudaram, como uma forte corrente sendo quebrada ao ser puxada para as regiões opostas das duas extremidades.
(Robert) –... Eu sempre obtive notas 10 em todas as minhas provas. Se não isto, por volta. Era sempre o melhor da turma, junto do mano.
(George) –... Penso ter sido um bom aluno, não tenho certeza. O mano era sempre melhor (mentia), sempre era o mais chamativo. Outros amigos também eram muito bons na escola.
- Magnífico, esplendido. – O psiquiatra não continha a animação – Como imaginei. Eles são idênticos, como se fossem um, mas quando entra nesta específica área da personalidade, a junção se desmancha. São jovens verdadeiramente fantásticos. Continue, Sr. Benjamim, por favor.
- Muito bom. – Seguiu Benjamim - Quais suas... SUA... Experiência profissional?
(Robert) – Nunca trabalhei antes, senhor, mas dou certeza de que sou perfeito cara o cargo de assistente administrativo. Tenho inglês fluente e francês, não como a maiorias diz ter. Falo como um americano, sou bom. Nem nota-se meu sotaque gringo. Na informática, também me dou. Fiz curso de linux, webdesigner, java...
(George) – Nunca trabalhei antes, senhor, por isso não tenho experiência. Por sorte, nos matricularam, meu irmão e eu, em um curso de inglês e alguns outros na área de informática. Não acho ser... Assim... Fluente, mas sei alguma coisa.
- Por que devo escolher você, entre os muitos candidatos que aqui vieram?
(Robert) – Sou seguro e confiante em tudo o que eu faço. E sempre termino o que comecei, como já disse, o que me falta de experiência me sobra em conhecimento. Sou capaz de “ir além” em muitos outros tipos de área.
(George) – Não posso responder isto, senhor. Tenho um pouco de conhecimento sim, mas... Acredito que o senhor seja o chefe, o senhor quem sabe quem deve ser o melhor para o trabalho. Hehehe. Não me acho melhor do que ninguém.
Benjamim coçou a cabeça e franziu a testa. Algo o enchia de dúvidas, sendo que o desfecho desta história já estava mais do que óbvio.
- Última pergunta. – Disse. – Se acha apto a trabalhar como meu assistente em minha multinacional?
(Robert) – Senhor... Se o mundo gira em torno do sol e a matemática é uma ciência exata, eu tenho habilidades mais do que precisas para o cargo. Nunca irei falhar, nunca irei desapontar, nunca irei cair...
(George) – Talvez... Si... Sim... Não tenho certeza.
Pensou um pouco, depois prosseguiu.
- Pois muito bem, senhores... SENHOR! Em breve entrarei em contato.
- Está certo, muito obrigado! – Responderam os dois de uma vez. Continuaram em um sussurro enquanto saíam.
(Robert) – Já posso escolher minha roupa de trabalho...
(George) – Acho que não vou conseguir...
- E então, senhor?
Após um momento.
- Não, nenhum.
- Como nenhum? Não viu que eles são fascinantes?
- Para o seu estudo, talvez, para meu propósito, não. O tal Robert é muito convencido, levando-o à decadência. Acreditar em si é muito bom, mas ter certeza de que sempre é o melhor e sempre irá conseguir, seja lá o que for... Não, caro doutor, preciso de uma pessoa com o mínimo de humildade. Todos precisam estar preparados para erros, ele não está. O irmão, George, não sabe ou não admite que tem a capacidade de varrer o chão da própria casa ou dar um nós no cadarço do próprio sapato. Não sei qual o defeito pior.
- Entendo. Concordo. Muito obrigado, mesmo assim.
- Quero saber o resultado final de sua experiência, digo, as conclusões. Podem me ser úteis em algum tipo de palestra para meus empregados.
- Você terá. Adeus, senhor Benjamim.
- Adeus, doutor.