Reflexão sobre o asfalto*

Pela primeira vez em muito tempo eu olhei para a estrada e não fiquei me imaginando estar nela andando por quilômetros sem destino.

Notei que o desejo esmaeceu, tornou-se mais brando, quem sabe domesticável.

Não me espanta, por mais que entristeça.

Acho que o tempo tende a domesticar o homem. A idade e as responsabilidades da vida amarram desejos como arreios de um cavalo, limitando seus movimentos e sua visão. O olhar, sem dúvidas, é o sentido mais afetado. Anda-se, mas com a vista curta.

Faço planos. Planejo o melhor que posso e dentro das minhas possibilidades, tento viver um pouco além deste momento simplesmente, do agora. Quero mais do que nunca refletir sobre os atos antes de agir.

Sabedoria e instinto parecem ser como água e óleo.

A estrada ainda está lá, levando a destinos inéditos e experiências únicas, mas ela é incerta e insegura. Estes são sentimentos que, no meu íntimo, não desejo sentir mais.

E talvez por isso, e é por isto que fiz esta reflexão, que a estrada perdeu um pouco do brilho.

Eu precisava entender de onde veio este temor de perder o controle das coisas.

Um dia voltarei, desta vez com a segurança da minha família ao meu lado e será maravilhoso novamente, por quilômetros e quilômetros sem destino.

Jefferson Farias

*Publicado originalmente em https://ocronistainutil.wordpress.com/2020/02/04/reflexao-sobre-o-asfalto/

O Cronista Inútil
Enviado por O Cronista Inútil em 04/02/2020
Reeditado em 04/02/2020
Código do texto: T6857908
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