Destino ou Causalidade

Esse registro não seria possível se: o serviço militar não fosse obrigatório: e alguns dos que o prestam expressassem sua contrariedade, em atos considerados de indisciplina.

Antes de entrar propriamente na narrativa, e sempre no cacoete, ou vício, ou dependência ao estilo professoral, adicionado ao exagero virginiano em detalhes, vou inserir dois entendimentos. Os dois reforçam o dito, nada acontece por acaso.

Destino é sucessão inevitável de acontecimentos, possivelmente, por ordenação cósmica. É a ação que a ordem cósmica exerce sobre cada um de nós, para que cumpramos as funções e a missão para as quais nascemos.

Causalidade é relação entre dois eventos de tal forma que o segundo evento seja consequência do primeiro. Como ilustração: o “gatilho”, uma faísca causa a destruição pelo fogo; a “retroalimentação” muito bem representada pela homeostase (algumas reações de nosso organismo) e pelos servomecanismos, por exemplo, as descargas de nossos banheiros.

Belém amada! Era início da década de 1960 e, como todos que haviam completado a escolaridade média (clássico e científico naqueles tempos) tinham o privilégio de cumprir o serviço militar, somente durante os fins de semana e nas férias escolares, no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva – CPOR.

Durante as férias, existiam atividades conhecidas como “acampamentos” que eram feitas em cidades vizinhas. Nesses acampamentos, aconteciam os treinamentos militares de defesa: tiro, marchas, travessias e, inclusive, simulação de defesa contra ataques aéreos.

Dadas as instruções pelo jovem tenente de que ações (abandonar a estrada, deitar e camuflar-se) seriam feitas, quando escutássemos o aviso (apito preestabelecido), o apito foi dado e, para demonstrar contrariedade em prestar o serviço obrigatório, mantive-me na estrada, olhando para o firmamento, como se procurasse as naves agressoras, irritando o jovem tenente.

O resultado dessa gozação foi quinze dias de detenção, o resto das férias, enquanto os que não demonstraram sua contrariedade, depois dos treinamentos na sede, na capital, voltavam para suas casas,

Grande parte dos filhos das famílias de maior posse, a elite de Belém, prestava esse serviço. Além disso, as oportunidades de trabalho surgiam e se transformavam em realidade, via relacionamentos sociais.

Nesse mesmo período de detenção, tive como companheiro um desses filhos e, nessa convivência forçada, ao mesmo tempo em que se colocava em cheque o meu grande preconceito de classe social, construía-se grande camaradagem.

Concomitantemente, cursava engenharia civil, mas profundamente descontente. Dessa turma, faziam parte dois vizinhos, com os quais formáramos grupo de estudo, para encarar o vestibular.

Um deles viaja nas férias para o Rio de Janeiro. Volta trazendo panfleto sobre projeto da Universidade Nacional do Trabalho - UNT, criada pelo então presidente Jânio Quadros. Era uma possibilidade de me ver livre do descontentamento com a escola. Mas, para tal, precisaria conseguir fundo de recursos preventivo, apesar de que o projeto previa bolsa de estudo.

Então, o companheiro, encontrado naquele período de detenção no CPOR, com o qual não tínhamos relacionamento mais frequente, procura-me e avisa-me sobre oportunidade de trabalho, no Laboratório de Paleontologia da sede da unidade da Petrobrás em Belém. Seis meses de salário daria para formar o fundo, que julgava necessário. Precisava encarar prova escrita e entrevista com o engenheiro chefe desse laboratório.

Consegui a vaga, formar o fundo e, apesar de, até hoje, essa camaradagem construída em detenção de serviço militar opbrigatório, não me ter contado, que foi seu relacionamento com o engenheiro chefe, o motivo determinante de minha (e dele também) aprovação, guardo essa certeza. De companheiros de detenção no CPOR, a parceiros de trabalho no Laboratório de Paleontologia da unidade norte da Petrobrás.

Tenha sido causalidade, ou destino, o fato foi sequência de eventos: a detenção no CPOR junta com um dos filhos da alta sociedade de Belém; Jânio ter sido eleito presidente e criado a UNT: o vizinho, companheiro de grupo de estudo e de universidade nos ter apresentado o panfleto que possibilitava a transferência para a UNT; o mesmo companheiro de detenção nos ter informado sobre a vaga e, certamente, facilitado a aprovação , possibilitando o fundo preventivo e consequentemente a transferência para UNT – CEIM - UFFRJ.

Causalidade, ou destino conduziram-me, empurraram-me para outras cidades, outras atividades profissionais e amadoras, para o amor definitivo, para a diversidade do pensamento humano, enfim para facilitar as funções e a missão, para as quais nasci.

Essa página autobiográfica, nada mais é que página do viver de todos nós e, certamente, a única diferença se faz no cenário, na época e nos eventos. A causalidade ou o destino conduz todos os humanos ao cumprimento das funções e da missão para qual nasceu.

E, para finalizar, não poderia ser diferente, duas, das quase duas dezenas de leis da natureza, ensinadas pelas religiões antigas, pelas escolas iniciáticas e pelos espiritualistas:

Lei de Evolução : “Tudo o que existe leva em si imanente a tendência e a força para converter-se em algo superior”;

Lei de Causa e Efeito: “Todo ato ou fenômeno tem uma causa produtora, como por sua vez também produz um efeito”.

Nada acontece por acaso, ou tudo que acontece tem um propósito, nosso destino, a evolução, que o Professor Henrique José de Souza, assim expressou: “evolução é transformar vida energia em vida consciência”.