A Revolução Militar de 1964 - Meninos, Eu Vi!
Sempre fui um sujeito que chamam de “cabeça feita”, sempre avesso a grupinhos, panelinhas, patotas, etc. Tudo que fiz de bom ou de errado na vida, fi-lo por minha própria decisão, eis que essa “cabeça feita” sempre foi refratária a conselhos, sugestões ou persuasões.
A minha linha política, a partir da maioridade e até hoje, é a seguinte: “Nosso regime é falho, é podre? Ok, vamos lutar para melhorá-lo, mas eleger o de Bush, o de Fidel Castro, o de Putin, o da Suécia ou o escambau como o melhor para nós é idiotice”.
Meses depois de eu ter chegado ao Rio de Janeiro, em 1961, o presidente Jânio Quadros, “O Homem da Vassoura”, renunciou ao cargo, deixando o país numa confusão medonha. Assumira o vice-presidente, João Goulart, o Jango, riquíssimo latifundiário, mas herdeiro do populismo de Getúlio Vargas. Manifestava tendências pró-socialistas, que o “Zé Povinho” confundiu como pró-comunistas, e aí estava pronto o mito: o homem era amigo do povo, iria expulsar os americanos daqui, viria o Comunismo, tirando o dinheiro dos ricos para dar para os pobres, não haveria mais diferenças de classes sociais, e blá-blá-blá... O cunhado de João Goulart, Leonel Brizola, homem também rico, mas de verbo fácil, encantava massas populares com o seu demagógico discurso de “acabar com o imperialismo ianque e com a pobreza do Brasil”. Kruschev, da Rússia, Fidel e Chê, de Cuba, eram mais idolatrados aqui do que lá nos seus países, onde o povo amargava um racionamento alimentar e total falta de liberdade política.
Os sindicatos tornaram-se politicamente fortes e, sob o olhar complacente de Jango, desenvolviam mais um ativismo político do que um sindicalismo sério, deflagrando greves por qualquer motivo. Lembro-me de uma noite, em que não pude voltar para a minha casa, em Campo Grande, subúrbio da Zona Oeste do Rio, porque um ferroviário fora preso por porte ilegal de arma e, por causa disso, decretou-se greve, com a conseqüente paralisação dos trens da Central.
Sempre fui um cético com sindicatos, pois nunca vi um presidente de sindicato que não tivesse duas ambições: enriquecimento fácil e projeção política. Mas, um dia, por insistência de uma senhora, que era minha colega no Banco Aliança do Rio de Janeiro, eu aceitei ser representante do banco (o chamado convencional) junto ao Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.
Numa das primeiras reuniões que participei, na condição de representante do meu banco, era uma Assembléia para decidir sobre a próxima paralisação dos bancários no Rio de Janeiro. Motivo? John Kennedy, presidente dos Estados Unidos, ameaçara afundar os navios soviéticos que estavam levando armamentos para Cuba. Dizia-se, também, que estariam levando componentes e artefatos eletrônicos para que Cuba pudesse lançar o seu primeiro foguete espacial. A respeito disso, lembro-me de uma gaiata manchete de um jornal carioca: OS EUA DEIXARÃO CUBA LANÇAR? Então, minha gente, o que estava em pauta, naquela Assembléia, era uma deflagração de greve dos bancários numa monção de apoio político a Fidel e a Kruschev.
Quando pediram o voto do representante do Banco Aliança do Rio de Janeiro, eu fui curto e grosso:
- Meu voto é Não! Contem comigo, até mesmo para fazer piquete e levar porrada da polícia, mas em defesa dos nossos direitos de bancários. Nada tenho a ver com Fidel e Kruschev, nessa eu não embarco!
Fui vaiado e chamado de reacionário, imperialista. Mas tive a satisfação de ver que outros convencionais tinham a minha mesmíssima opinião. Mas fomos votos vencidos e a greve se fez.
Sem que os idiotas percebessem, os EUA, que se julgam os romanos dos tempos modernos, com respaldo político e econômico das forças da UDN, lideradas por Carlos Lacerda, e o governador de Minas, Magalhães Pinto, já estavam pondo em ação a sua máquina política e econômica para derrubar o presidente do Brasil, cooptando para isso graduados militares das nossas Forças Armadas, sob a alegação de que estava em marcha uma tentativa de tornar o Brasil um satélite comunista.
O expansionismo comunista – o perigo vermelho - sempre foi um pesadelo para os americanos. Não por questões sociais ou humanas, mas simplesmente em função da disputa pelo domínio ideológico, econômico e político do resto do mundo. Eles até toleravam o Leste Europeu dominado e tutelado pelos russos, mas a Cuba de Fidel era - e continua sendo - uma espinha atravessada em suas gargantas: um país comunista dentro da própria América! Tinham, pois, um paranóico temor de que acontecesse o mesmo com o Brasil!
A TFP (Tradicional Família Mineira) fez passeata em favor da democracia e a da ordem, Jango foi veladamente advertido pelo embaixador americano, Lincoln Gordon, e depois do Movimento dos Sargentos e a Revolta dos Marinheiros e, finalmente, o famigerado Discurso da Central do Brasil, de 9/03/1964, os generais rebelaram-se e tomaram o poder, iniciando uma ditadura que durou 25 anos.
Jango e Leonel Brizola fugiram para o Uruguai onde, com o muito dinheiro que levaram, tornaram-se abastados fazendeiros. José Dirceu (lembram-se dele, o chefe da gang do Mensalão?) FHC (Ah, deste os funcionários públicos lembram! Foi presidente por 8 anos, criou a CPMF e fez uma Reforma Administrativa que causou enormes prejuízos aos funcionários públicos) Miguel Arraes e outros pseudo-comunistas foram para o exílio onde, de problemas mesmo, só tinham “as saudades da pátria”.
E como “a corda só arrebenta do lado mais fraco”, estabelecendo-se uma repressão militar violenta e absurda, foram presos, espancados e torturados sérios e idôneos líderes sindicais e estudantis, - os chamados "inocentes úteis" - fecharam-se sindicatos e associações, acabaram-se as garantias individuais, fechou-se o Congresso. Ah, se fosse para fechar o Congresso de novo, até que seria bom outra revoluçãozinha, rs.
A linha repressiva dos tempos da ditadura militar, de Castelo Branco até Médici (Os Anos de Chumbo), era a seguinte: “Participou de algum sindicato, de alguma associação estudantil, fala o que pensa ou prega liberdade de expressão? É comunista, pau nele!” Tão estúpida e brutal era essa teoria que Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Juscelino - o grande construtor de Brasília - e cientistas de renome mundial, tiveram que pedir asilo político no exterior, perseguidos aqui pela máquina repressiva militar. Até o "Poetinha" Vinícius de Moraes foi demitido do Itamaraty. Só porque tinham a coragem de manifestar as suas opiniões. Músicas eram proibidas de serem cantadas, filmes eram censurados...
E eu, vejam bem, por terem encontrado a minha ficha de convencional no Sindicato dos Bancários, fui chamado para interrogatórios, levei alguns trancos e empurrões, e só fui salvo porque o meu primo, Antonio Augusto, era oficial da Aeronáutica, e também porque encontraram a Ata daquela Assembléia em que eu dizia “Não” à projetada greve de apoio a Fidel e Kruschev. Então, os samangos ficaram plenamente convencidos de que tenho tanta aversão por imperialistas quanto por comunistas, nazistas, petistas e outros “istas”. Principalmente dos comunistas, leia-se oportunistas, da História do Brasil: Jango, Brizola, Miguel Arraes, José Dirceu, FHC, Lula, Wladimir Palmeira, José Genoíno, etc.
Dizem que a intenção dos militares ( inclusive a do primeiro General-Presidente, Castelo Branco) era limpar a área dos comunas, pôr fim ao regime de exceção e logo restabelecer a Democracia, entregando o poder aos civis, mas tomaram gosto pelo Palácio da Alvorada e foram se sucedendo na Presidência da República: Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo.
Enquanto isso, os jovens e idealistas estudantes, intelectuais, religiosos e líderes sérios pagavam um preço alto por terem a coragem de manifestar a sua opinião: considerados logo como subversivos, eram presos, espancados e torturados. Muitos sumiram nos porões da ditadura, acusados de um único crime: o de não se calar ante a injustiça e a violência. E entre os jovens idealistas continuavam a proliferar os “inocentes úteis”, financiados, armados e treinados por Moscou e Cuba para serem guerrilheiros ou terroristas, e para morrer, não em nome do Brasil, mas em nome de um regime que lá mesmo em Moscou e Cuba não estava dando certo. O Exército reagiu com inominável brutalidade e até hoje, famílias choram esses jovens assassinados e enterrados nas matas da Amazônia e do Araguaia.
Depois de 25 anos, os militares cansaram-se do poder e resolveram voltar para a caserna. Acabou o Comunismo na Rússia, caiu o Muro de Berlim, o Leste Europeu, na sua maioria, tornou-se politicamente independente dos soviéticos. Figueiredo decretou anistia total e “eles” os grandes mentores da baderna sócio-política que deu aos militares o grande motivo para desfechar o Golpe Militar de 64, voltaram do exílio ou tiveram seus direitos políticos restabelecidos: Leonel Brizola, FHC, Miguel Arraes, José Dirceu, José Genoíno, Lula e outros.
E quando devolveram o poder aos civis, foi um Deus nos acuda, “se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”: a sede de roubar era tanta que Collor, primeiro presidente civil eleito pelo povo, depois de 25 anos de ditadura militar, meteu os pés pelas mãos e, como não havia mais “inocentes úteis”, pois o Comunismo tinha falido em todo mundo, entraram em ação os “cara-pintadas” e o botaram para fora. Entrou Itamar Franco, depois o “socialista” FHC, e tudo voltou ao que era antes do dilúvio.
Leonel Brizola foi eleito governador do Rio, Miguel Arraes, governador de Pernambuco, José Dirceu, mais tarde tornou-se o chefe da quadrilha do Mensalão, José Genoíno, o ex- guerrilheiro, revelou-se melhor para roubar do que para atirar, e o Lula, bom, este todo mundo sabe o que aconteceu com ele, não é mesmo?
Dos tenentes e capitães, antigos torturadores, hoje coronéis e generais da reserva, ninguém foi punido. O que alegam: “Era uma guerra, cumpríamos o nosso dever”. Desde quando torturar e matar é um dever militar?
Resumo histórico da Revolução Militar de 1964: 25 anos de ditadura, muitos inocentes inutilmente sacrificados, por causa de três comunistas. Três?
Sim, porque, comunistas mesmo no Brasil só três: Carlos Prestes, Marighela e Lamarca – estes dois últimos executados a tiros pela repressão militar – que se mantiveram fiéis às suas ideologias até à morte.