FINAL DOS TEMPOS
Acabei de receber mais um desses textos que apregoam os “sinais do final do tempo” para o retorno do messias, conclamando as pessoas a se reconciliarem com os semelhantes e com deus, enquanto há tempo.
“Nada de novo sob o sol”, como dizia Salomão*.
Sempre os mesmos argumentos, as mesmas catástrofes como se o poder do altíssimo só pudesse se manifestar através da desgraça humana ou das convulsões dos elementos.
O planeta Terra, apesar de não ser um organismo vivo, está sujeito aos efeitos das variações físicas dos níveis de energia, temperatura, pressão, umidade, velocidade e sentido de deslocamento das correntes de ar, etc. e todas essas variáveis interferem na vida dos seres macro ou microscópicos.
Desde que há zilhões de anos quando a Terra se formou que sempre houveram e sempre haverá fenômenos capazes de alterar a face ou o interior do planeta sem que para isso haja a necessidade da interferência do ser humano, a fúria de um deus qualquer ou a concorrência de agentes extraterrestres, cujo último caso imagina-se que tenha ocorrido há sessenta e cinco milhões de anos.
Levando em consideração as distâncias astrofísicas e o volume das massas dos corpos celestes, podemos imaginar que a probabilidade de colisão entre nosso planeta e qualquer outro é bem próxima a do choque entre duas cabeças de alfinetes estando um deles na mão de japonês dentro do metrô em Tóquio e o outro na mão de um capiau no fundo da Gruta do Maquiné em Cordisburgo/MG.
Os textos, considerados sagrados, falam que as punições divinas são a consequência das transgressões das normas sagradas (sociais na maioria), entretanto as narrativas limitam-se a fenômenos físicos sendo o dilúvio o mais citado, talvez por se referir as inundações provocadas pelo fim da última glaciação ocorrida, mais ou menos há dez mil anos, e que nos mais de mil anos de sua duração, represou as águas por congelamento de tal sorte que os oceanos estiveram recuados mais de cem metros dos níveis atuais.
Assim como as transgressões os fenômenos são os mesmos, mas a diferença está na velocidade da comunicação.
Hoje podemos acompanhar em tempo real um terremoto na Itália, um furacão no Haiti ou tsunami na Nova Zelândia e é essa urgência na transmissão dos fatos pelas redes sociais que nos insere nos acontecimentos e dá munição aos arautos do apocalipse para mais um final dos tempos.
* Livro Eclesiastes 1:9 (bíblia)