Reverberação

Passei em frente à casa cujo número somava sete e na qual cresci durante meus primeiros seis anos. Com a morte de sua antiga proprietária, ela fora ocupada por algus meses. Após esse período, tornara-se desocupada (não digo "vazia", pois essa característica é imprópria; mesmo quando habitada ela fora marcada por um certo vazio...), até que, coisa de um ano e meio depois, fora ocupada por criaturas não muito dignas de atenção... (ignoremos maiores explicações).

Mas o que realmente importa, o motivo real, o mote por trás dessa crônica é algo um tanto atípico. A energia elétrica continuara a ser fornecida. Logo, a campainha poderia ser acionada. Eu não me recordo se cheguei a tocar a campainha, mas esse desejo de fazê-lo acompanhou-me por algumas semanas. Era de um simbolismo pessoal de enorme importância para mim. Eu pensava: "ao tocar a campainha, mesmo com a casa vazia, fechada há meses, o soar da campainha deve ecoar lá dentro e, de algum modo, evocar os fantasmas..." Com efeito, tal impressão me impedira de fazê-lo. Não me lembro de tê-la acionado. Mas em âmbito mental ela emite os ecos que poderiam ter sido produzidos pela sua ativação, reverberando pelas paredes do 250 e sem sinal de se anularem, malgrado os encontros das ondas sonoras que iriam/viriam. Esse "sonar" ("som + ar"?), que muito remete àquele sistema de comunicação dos morcegos, para evitarem bater em algo durante seu voo, é eterno, porque pode ainda ser lembrado. Reverbera pelo Cosmos -- singrando os infinitos confins do que ainda não pôde ser descoberto.