LITERATURA FLUMINENSE
JOÃOMARCO ESCREVE SEU NOME NA HISTÓRIA
DA LITERATURA FLUMINENSE
Nelson Marzullo Tangerini
Arrumando, um dia desses, a minha modesta biblioteca, como fazem todos os escritores, eis que encontro numa estante o livro de poesias “Um grande amor”, do poeta rioclarense João Marcos Pereira.
Conheci João Marcos em Rio Claro, RJ, em 2012, quando fotografava a antiga e abandonada estação ferroviária daquela cidade localizada no sul fluminense. Quando ele parou para me observar fotografando e veio conversar comigo, percebi, de chofre, que era poeta. Admirador da fotografia, depois da literatura, apresentou-se, dizendo-me que escrevia versos e que havia publicado um livro de poesias.
Pela minha cabeça, naquele momento, passou-me a imagem e a poesia do romântico Luiz Nicolau Fagundes Varela, nascido também em Rio Claro, mais precisamente na região de São João Marcos, onde havia uma cidade colonial um tanto barroca, que foi destruída a mando de Getúlio Vargas, que pretendia construir ali uma represa para abastecer a Capital Federal, o então Rio de Janeiro. No local, hoje, restam apenas ruínas da velha e gloriosa São João Marcos, outrora uma cidade que, no auge do ciclo do café fluminense, rivalizava em produção com Vassouras.
É costume, em Rio Claro, batizar o filho com o nome João Marcos. Principalmente, quando a pessoa descende de antigos moradores expulsos da histórica cidade. Talvez para que a memória da destruição de São João Marcos jamais seja esquecida entre familiares e amigos, na cidade.
Pois bem, João Marcos convidou-me para ir a sua humilde residência. Caminhamos pela antiga linha férrea e, depois, à direita, subimos uma estrada em ladeira, em direção à referida casa. A paisagem, de lá, era belíssima; avistava-se as altas montanhas do sul fluminense, próximas a divisa com o Estado de São Paulo.
Tomamos café juntos e o poeta, entre um gole e outro, falou de sua família, enquanto autografava para mim um dos exemplares de seu livro, dedicado a suas filhas Thayná e Tayrine. Depois, foi ao quarto e me trouxe livros de Fagundes Varela e uma pasta, onde havia recortes de jornais sobre ele e diplomas de concursos de poesia.
Há um romantismo ingênuo em seus poemas, o que me fez lembrar os românticos versos de Varela, mal falado em Rio Claro, por ter sido boêmio inconsequente e andarilho e ter abandonado a cidade, onde nasceu, a 17 de agosto de 1841. Depois de percorrer vários estados, veio o poeta a morrer de tuberculose [ou hemorragia cerebral] em Niterói, antiga capital fluminense, a 18 de fevereiro de 1875.
No poema “A meus pais”, João Marcos lembra de sua simples e humilde infância: o pai pedreiro, a mãe dona de casa, os muitos irmãos, a Rua Sete, onde nasceu, a Rua da Gruta, onde foi morar, o brinquedo quebrado, as suas travessuras. Versos que me trouxeram à memória um fragmento de A Roça, de Fagundes Varela: “Onde a infância passei descuidos, Onde tantos idílios sonhei, Onde ao som dos pandeiros ruidosos, Tantas danças dancei”.
Em Poesia, João Marcos dá sua contribuição para o tema: “Poesia é dança, Trança dos ventos, Andança de letras. Poesia, andança nua na ponta do lápis, na vertigem da lua. Poesia não se encontra, Nasce do lado da gente, Cresce e se torna sonho. Poesia é o verdadeiro amor”.
Depois de oito anos, volto a reler João Marcos, para entender que a poesia fluminense continua viva e altiva. Afinal, foram os fluminenses os que mais contribuíram para a formação da literatura brasileira. Grandes escritores e poetas tivemos. Fora da ordem: Luiz Leitão, Brasil dos Reis, Mazzini Rubano, Olavo Bastos [quatro poetas do Café Paris, Niterói, anos 1920], Fagundes Varela, Casimiro de Abreu, Luiz Pistarini, Maurício Marzullo, Raul Pompeia, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Euclydes da Cunha, Machado de Assis, Agripino Grieco, Vinícius de Moraes, entre tantos outros.
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