SOFÁ ABANDONADO
Quantos suores untaram sua pele.
Quantas histórias alinhavadas aqui, quantos medos viraram poeira nesses cantos.
Quantas agonias se sucumbiram nos seus vãos.
Imagino que paixões puderam ser atiçadas nos acasos da vida.
Quanta sabedoria repousa no seu cheiro, na sua textura, no seu gosto.
Quanta verdade se prende nas suas costuras.
Quantas lágrimas escorrem pelos seus arremates.
Agora, abandonado, só lhe resta ter novo papel, talvez o leito de algum bicho-bicho ou bicho-humano que deixará a fria dureza de um cimento qualquer.
Talvez alguém decida atear fogo e assim todas lembranças mesclarão em cinzas que o vento se encarregará de chutar pra nunca mais.