O BAR DO MIGUEL




Atentem para a foto ilustrativa.

Era a Irati dos anos 70.

Naquele casarão de madeira, com sótão,(onde aparece um caminhão estacionado à frente) residia a familia Kubaski.
Seo Miguel, dona Nair – a esposa – e os filhos: Jorge e Clotilde (A “Clô”) como a denominávamos.
Uma familia fantástica !
Naquela casa a alegria era perene.
As duas portas largas davam entrada para o famoso “Bar do Miguel “
Tudo o que rolava de assuntos e boatos na cidade,era anunciado em primeira mão (e com ligeiro toque apimentado) naquele recinto.
Do outro lado, logo abaixo da linha férrea (infelizmente não aparece na foto) no segundo andar de um edificio de esquina, funcionava um famoso escritório de advocacia e contabilidade, onde este que vos escreve e “Clô” - a filha do senhor Miguel , faziam parte do quadro de funcionários.
O bar atendia na parte de manhã e à tarde o casal Kubaski, com sua conhecida Rural Willys saíam para pescarias que só acabavam à noitinha.
Na manhã seguinte, lá pelas 10:30, os lambaris fritos e crocantes nos eram oferecidos pelo então, sistema de comunicação.
Seo Miguel introduzia dois dedos entre os lábios e um assobio que alardeava a cidade, nos colocava em massa na sacada para saber das “mais recentes”.
Costumeiramente era a oferta dos produtos:
Naquele seu vozeirão ele alardeava do outro lado da linha férrea:
-Peixe frito tigrada ! E hoje a Nair caprichou.Vou até comer um agora e voces vão escutar a “buia” da crocância.
Nem é preciso dizer que , depois de feita a vaquinha, um voluntário encarregava-se de trazer a tigela cheia e mais uns pãesinhos de quebra.
Assim iam-se passando os dias na “pacaética” (mistura de pacata e poética) cidadezinha.
A sogra de Seo Miguel, sofria de problemas respiratórios que lhe exigiam alguns cuidados especiais, incluindo internamentos. Ela nem sempre concordava com o excesso de bom humor do genro.
Diante disso , apesar da convivência mais ou menos pacífica, de quando em quando armavam um modesto barraquinho.
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Manhã de um dia qualquer nos idos de 1972.

O conhecido assobio rasga a pasmaceira do trecho, um pouco antes do horário de costume.
Corremos todos para a sacada.
Seo Miguel dá a notícia.
[ Na porta, de tacos de bilhar em punho, boa leva da boemia frequentadora do ambiente,surge em solidariedade]
- “Clô” ! Tô voltando do hospital. Entubaram a vó ! De hoje a véia não passa.
Uma zoada de incovenientes gargalhadas, incluindo a do genro e adentram-se.
Preocupados, tratamos de acalmar a nossa colega de trabalho.
Alguns dias depois, pela janela do escritório,alguém um
pouco mais “assuntante” da rua da estação, nos alerta para a boa nova.
Nos apinhamos pelas janelas, então...
Altiva, sapatinho de salto alto, bolsinha no braço, cabelinho esticado a laquê, eis que a vó da nossa amiga, caindo de charme,vai se achegando ao bar do genro,
Ao vê-la, assim tão bem na estampa, o polaco Miguel abre os braços e a acolhe:
-Sogrinha linda e querida !
Seja muiiiito bem vinda ! Quanta satisfação em recebe-la..
[Nair ! Venha ver quem acaba de chegar!]
Os bebuns fazem fila para abraça-la e nós, na sacada dos mexericos, caímos na gargalhada.
O apito de um trem nos coloca em compasso de espera para uns acenos à brotolândia que chegava nos vagões de passageiros.
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Hoje no local, um moderníssimo prédio de uma agência bancária rouba a magia daquele tempo,mas quando desejo , passo a borracha na paisagem atual, com seus fru-frus, e adentro ao bar do Miguel. Sinto o cheiro dos lambaris fritos (e crocantes) e ainda sou recebido com pompa e circunstância.