Um momento de plenitude*
Meu filho dormiu no meu colo esta manhã.
Fazia um calor danado e sentia a cabecinha dele suada encostada no meu ombro, mas ali ele ficou e ali eu deixei que ficasse.
Uma sensação indescritível de confiança e amor dele para comigo conforme seu corpo ia ganhando peso, relaxando. Eu estava em pé escutando música com ele no colo quando ele deitou a cabeça no meu ombro e começou a reclamar de sono. Continuei embalando-o ao ritmo da música até que ele silenciou e finalmente dormiu.
Ainda que não fosse a primeira vez que isto aconteceu, senti-me completamente pleno naquele momento. Não havia mais nada que eu quisesse fazer que não aquilo, e nem estar em nenhum outro lugar que não no meio da sala em pé com o meu filho no colo escutando música.
Mais cedo, quando ainda estávamos na cama dormindo, ele se aninhou no meu peito assim que a mãe levantou para ir ao banheiro. E da mesma forma, ali ficou. Tão perto e tão protegido de qualquer coisa que ele ressonava profundamente, alheio aos cachorros que latiam para alguém na rua ou para as motos que passavam em alta velocidade.
Eu apenas fechava os olhos e pousava meu nariz sobre seus cabelinhos também suados, talvez pela proximidade de mim que ele insistia em ficar.
Não há coisa igual neste mundo. É simplesmente maravilhoso, mesmo que eu não consiga descrever exatamente o que é tão maravilhoso.
Não acho que seja necessário descrever, na verdade. É puro sentimento.
Jefferson Farias
*Publicado originalmente em https://ocronistainutil.wordpress.com/2020/01/31/um-momento-de-plenitude/