Mosaicos* (29/01/2020)

Os olhos daquela noite velavam a mim eu seguia pelo corredor de minha triste sina e quanto mais havia apartamento mais havia estrada eram as trevas os mosaicos daquela jornada com suas armadilhas críveis para que valesse a pena e na agonia das horas o remorso pairando a cabeça como os vagalumes que tecem o lusco-fusco gente que se disfarçava para encontrar na coragem teatral a revelação de si mesmo e foram-se os rostos que havia na cavidade da urbe bem lá atrás como que benzendo as esquinas e fazendo escorrer o leite da vida claro que nada daquilo devia ser verdade a utopia nos embriaga de vinho tinto de sangue de barro e cinzas e tudo deve ser derribado para que haja a materialização das ideias e não os frutos dos enganos é quando pensamos que ainda se está no começo quando na verdade esse tudo é feito do fim o mundo oferece falsas possibilidades no leito de morte as veias pulsando para fora da pele num derradeiro esforço e nas unhas a sujeira acumulada de uma vida teria sido viçosa aquela criatura o que dizer para ela uma pausa propositada em respeito pelos anos vencidos a lembrança é a mais pura herança cato flores no mato da consternação para adornar o esquife e ao vê-la vestida daquele jeito espremida sobre velas e desatinos arrisco um beijo à fronte descoberta e volto pela mesma porta de entrada não ouço mais os cânticos e rezas na madrugada a brisa azeite me acorre às narinas e aceito todas as possibilidades mesmo acreditando que tudo é ingratidão e que nós somos mesmo fantasmas a minha sombra agigantada diz-me que logo também deixarei de ser no bolso da calça amarrotado um pano retalhado do passado e que agora é parte do luto e se ainda existo é porque sou um entusiasta sinto na insensatez o cheiro virginal da aurora que se avizinha agarrado ao véu que desanuvia faço dele a minha coberta e adormeço enfim pouco esperançoso de que ao acordar tudo tenha sido um pesadelo...

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os olhos daquela noite velavam a mim

eu seguia pelo corredor de minha triste sina

quanto mais havia apartamento mais havia estrada

eram as trevas os mosaicos daquela jornada

com suas armadilhas críveis para que valesse a pena

na agonia das horas o remorso pairava a cabeça

como vagalumes tecendo o lusco-fusco

gente que se disfarçava para encontrar na coragem teatral

a revelação de si mesma

foram-se os rostos que havia na cavidade da urbe

bem lá atrás benzendo as esquinas

fazendo escorrer o leite da vida

claro que nada daquilo devia ser verdade

a utopia nos embriaga de vinho tinto

de sangue de barro e cinzas

e tudo deve ser derribado para que haja

a materialização das ideias e não os frutos dos enganos

é quando pensamos que ainda se está no começo

quando na verdade esse tudo é feito do fim

o mundo oferece falsas possibilidades no leito de morte

as veias pulsando para fora da pele num derradeiro esforço

e nas unhas a sujeira acumulada de uma vida

teria sido viçosa aquela criatura

o que dizer para ela

uma pausa propositada em respeito pelos anos vencidos

a lembrança é a mais pura herança

cato flores no mato da consternação para adornar o esquife

ao vê-la vestida daquele jeito

espremida sobre velas e desatinos

arrisco um beijo à fronte descoberta

e volto pela mesma porta de entrada

não ouço mais os cânticos e rezas na madrugada

a brisa azeite me acorre às narinas

e aceito todas as possibilidades

mesmo acreditando que tudo é ingratidão

a minha sombra agigantada diz-me que logo também deixarei de ser

no bolso da calça amarrotado

um pano retalhado do passado

que agora é parte do luto

e se ainda existo é porque sou um entusiasta

sinto na insensatez o cheiro virginal da aurora que se avizinha

agarrado ao véu que desanuvia faço dele a minha coberta

e adormeço enfim

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 30/01/2020
Reeditado em 17/11/2024
Código do texto: T6853885
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