Vez ou outra tomo um banho de saudade pra exalar o perfume que restou de quem não toca mais o samba da batida, que se consuma num abraço, enquanto o ar pede carona pro suspiro. Não fosse esse movimento, a lembrança daria uma rasteira e cairiam no esquecimento os fatos, que traduzem a semântica que reside entre o nascer e o morrer. Um infarto fulminante, um acidente trágico, um deslize de terra ou a velhice enrugando a pele e deixando-a mapeada de cenas que traçam linhas de sentimentos guardados na caixa de Pandora ou no Carrossel em forma de caixinha de música de minha bisavó, saudade tem pinceladas em tons de cinza. Quando perguntei sobre saudade pra minha avó, no auge de sua simplicidade e sapiência disse que era “a dor sentida de uma alma parida de amor”. Sussurrei em seu ouvido que saudade era feito palito de fósforo quando aceso, vai queimando aos poucos até virar pó e expirar. Ela, com um olhar de quem reprime, sorriu em negativa, dizendo: - Você sempre coloca os pés no chão. E por falar em mim, sou do tipo estrela cadente em céu azul anil, ao cair, vai deixando seus rastros para imprimir identidade. Mas sumo, assumo, consumo. Tenho diagramas complexos por traduzir que sabotam o que há de natural. Não somos um pouco de tudo que vivemos? Então, me aventuro na viagem em busca do navio que partiu e, em meio ao mar, vai ficando pequeno até ser perdido de vista. E por falar em mim, sou saudade... Gestando o amor que há em mim... Até o fim!
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 29/01/2020
Reeditado em 29/01/2020
Código do texto: T6853481
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