E NÃO QUERIA FALAR DELA - BVIW
Preferia falar do rio onde se pescava alegria e agora piscava um riso sim e outro não. - Estou lavando suas meias pela última vez, Agno. Não serei mais a do tanque, fogão e pilão. Agradeça por não ser o fogareiro que entorna em toda uma vida.
- Por Deus, mulher! O que deu em você? – Deu que não sou cata-vento galinha que cisca, pintinho que pia no terreiro. Acabou a fazedora de doces para você vender. E tudo em troca de quê, Agno?! Um par de chifres barato do beco das colinas?
Deu em mim que essa vida é só dureza! Nem sei o que é uma viagem. O mundo inteiro passeia. Você nunca me levou à praia, Agno! Por acaso é coisa de um mundo tão distante? O que tenho para falar de mim? Que conheço daqui até o Córrego da onça?! - Mas o mar não está para peixe, mulher! Morre gente afogada todo verão. Morre gente nas estradas para ir, morre-se ao voltar...
- Sei. E morre quem nunca viveu nada disso. Por falar em mim, sou uma morta viva. EU QUERO VIVER, AGNO!!! Quero ter foto para mostrar no aparelhinho. E quando é que eu vou ter um aparelhinho, Agno?