Tudo bem com você? (BVIW)

Chamo pelo sono e o que me vem à mente sou eu, os meus e nossos problemas insolúveis. Mas quando ocorrem tragédias, se barracos despencam das alturas, a insônia muda o foco. Noite passada foi assim comigo, noite de muita preocupação com os deslizamentos ocorridos em Belo Horizonte.

Morreu gente. Para sempre levaram consigo a improvisação da moradia, o constrangimento do subemprego, a mão-de-obra desqualificada, a instabilidade, a chance de se (re)erguerem. Morto está o sonho de cada um dos soterrados. E toda flor que brotar daquela terra vermelha - exposta feito ferida - terá raízes afundadas na dor e na saudade.

Procuro uma beleza nesse desastre, mas não há. Até a solidariedade tão linda parece triste, tardia e insuficiente. A insônia volta a me inquietar e vejo que faço pouco pelo próximo. O súbito socorro alheio volta rapidamente para sua zona de conforto. Mas para a maioria dos atingidos a normalidade talvez nunca volte.

Aprendi com todo esse desastre? Tomara que sim. Ajudar a quem precisa, de forma contínua, faz com que a gente se esqueça dos problemas pessoais que nos tiram o sono. Enquanto escrevia essas linhas, prometi a mim mesma variar mais a primeira pessoa do discurso, afinal não existe só o eu. E, por falar em mim, como vai você?

Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes)
Enviado por Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes) em 29/01/2020
Reeditado em 29/01/2020
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