A Chuva na Roça

Lá na serra, na região do Alto Paranaíba, a chuva caiu com força... Ventos varreram a paisagem líquida. As árvores novas que ladeiam a casa, coitadinhas, foram açoitadas sem dó. A chuva gritava, ensurdecedora. Eu fico pensando: pra onde voam os passarinhos? Onde se escondem? O gado procura se esconder debaixo das árvores grandes, seu guarda-chuva. Ficam com as caras lambidas, inertes. Geralmente em pé, encostadas umas nas outras. Penso que, se sabem rezar, imploram a Deus para lhes livrar dos relâmpagos mortais. E as gentes correm pra dentro de casa e ficam espiando a chuva chover. Quem ainda fuma cigarros, e ainda de palha, fica fazendo todo aquele ritual de cortar o fumo, enrolar a palha e lamber as beiradas para fechar o cigarro. Daí acende e dá umas baforadas... Entre uma fumaça e outra, espia a chuva... Os olhos brilham de alegria. Sabe que a chuva é a fazedeira de vida nas roças e no curral. A chuva cai com força, fazendo rios na ladeira, como os dois rios paralelos na minha cara. Sei lá se rios ou mares... Porque têm sal. O sal é um bom tempero. Esse que tem na lágrima tempera a emoção, que fugidia, encontrá palavras para a poesia...

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 28/01/2020
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