Carta a meus amigos
Se você usa frases do tipo "Nossa! Você não parece gay". "Se você não tivesse dito eu nunca desconfiaria". "Mas você é o homem da relação, né?" "Você é ativo, né?". Se você é gay e usa frases como "Não gosto de afeminado. Mas não é preconceito é questão de gosto". "Sou fora do meio e busco semelhantes". "Mas você é discreto?". Peço que parem.
Frases assim reforçam como características negativas ser gay, ser afeminado, ser passivo e ser assumido. Reforçam a necessidade que para ser superior você precisa se parecer com seu amigo heterossexual, ser ativo, não ter amigos gays e não ser quem você realmente é. Ainda acrescento: não há papéis de homem e mulher na relação gay.
Ao invés de dizer frases como essas, diga que está feliz por eu ser uma boa pessoa, que gosta de mim por eu estar namorando e que um dia você vai descer comigo até o chão da boate ouvindo qualquer diva pop.
Diga que você tem bom carácter e busca semelhantes, diga que você não gosta de quem rouba, mente ou é preconceituoso.
Confesso que essas frases me traziam um certo conforto em 2009, época em que eu travava uma luta interna para me descobrir e me aceitar. E achava otimo ou vantajoso não parecer gay.
Onze anos depois, essas frases causam efeito contrário. Desassossegam, irritam, entristece. Eu quero ser o que sou e não me importar se minha voz é fina, se tiro a sobrancelha, se sento de pernas cruzadas, se frequento a The Week ou se no meu rádio só toca Beyoncé.