Escolhas

A vida é feita de escolhas. Arre!, frase surrada...

Porém, verdadeira. Só que, alguns podem escolher mais e melhor, outros, nem tanto.

Em uma sociedade cuja lógica é a do ter sobrepondo o ser, ou ter para ser, somos conduzidos ao consumismo. Quanto mais temos, mais somos.

É, portanto, um suporte de sustentação do capitalismo. Trava-se no seio da sociedade uma disputa de posição na pirâmide social.

O Natal, por exemplo, é um momento mágico de consumismo. Serve para expor e abafar a luta de classes.

É... “O mundo gira, a Lusitana roda!”.

Há quem só pode escolher minimizar sofrimentos. Do corpo e da alma.

“Estou vendendo o almoço para comprar a janta”.

Essa tal alma, entendo-a como essência do ser. O sofrimento dela não distingue posição social, religião, sexo...blábláblá.

Estou saindo do eixo...

Quero mesmo é falar do amor. Ele nos escolhe ou nós o escolhemos?

Quando aceitamos ser amigo de alguém, está claro que ele nos aceitou, também. Por ene motivos: interesses objetivos e subjetivos; afinidades. Estabelece-se um acordo tácito ou factual, para se conhecerem. O que leva um certo tempo. De duração variada. Pode ser fugaz, pode durar a vida inteira.

Ou... Transformar-se em ódio.

Que armadilha! (o modelo de organização social se fortalece).

Creio ser unânime a resposta: em assuntos de amor (em todas as suas vertentes) escolhemos e somos escolhidos.

Não esquecermos que estamos submetidos à lógica da ideologia burguesa, às suas leis... Superestruturas. Ah, muitos acreditam que esta concepção é ultrapassada... Será?

Ultrapassar os limites das leis (que armadilha bem montada pelo sistema) é subverter a ordem. A ordem burguesa. Que está lá, naquela área do cérebro, que se nomeia inconsciente... coletivo. Ordem e Progresso. Para quem, cara-pálida? Por isso, alguns parlamentares sugerem a inclusão do amor. Ordem, Progresso e Amor. Ruptura com o positivismo.

O amor é regulamentado. Cerceado. A ruptura é necessária, para que o amor seja de fato uma escolha. Para que esta mudança radical (no sentido de ir às raízes, as causas que engendraram o amor submisso, pilar de sustentação da ideologia dominante) ocorra, muitos nós precisam ser desatados. E depende de todos nós, pois:

“Uma andorinha não faz verão”.

Para o bem da nossa casa, esse lugar chamado Terra... Para o bem do corpo e da essência, precisamos construir uma hegemonia alternativa em que o amor não seja interditado por agentes internos e externos. Não seja escravo de concupiscências.

Sem os grilhões da moral hegemônica, hipócrita.

Amor que se ama e se deixa amar...

Que vive e deixa viver na plenitude.

Amor que permita ser.

Que o ter seja igualmente dividido.

Crônica escrita em 2014, que está em meu livro Crônica do Amor Virtual e Outros Encontros, que ora republico.