A Gente Aprende Com A Vida
Quando mais jovem, bem jovem mesmo, me deparei em situações onde não recebi instrução, muito menos apoio pedagógico dos meus coordenadores, nem da escola onde lecionava. As vezes, recorria à minha Mãe e quando ela não tinha resposta, ela dizia que eu encontraria ajuda na minha jornada porque Deus é Pai.
Um dos meus primeiros desafios foi um senhor idoso que não botava fé nos meus 18 anos de vida e quatro meses de treinamento. Sr. Milton era o meu pesadelo. Nunca estudei, pesquisei e me esforcei tanto para me superar em sala de aula. No final do curso, ele me convidou para jantar no restaurante do Hotel 5 estrelas San Michel. Agradeci, mas não aceitei. Segunda a minha coordenadora Connie Betavas, "Never mix business with pleasure, especially with men." (Nunca misture negócios com prazer, especialmente com os homens.)
No ano seguinte, o desafio seria um aluno de Física da USP. O jovem já estava no seu 3° Ano e eu não conseguia acreditar que esse nissei com paralisia cerebral estava cursando Física na USP. Durante a aula toda, 90 minutos, ele tremia, parecia que bateria a cabeça contra a parede ou em algum colega ao seu lado. Meu Deus! O que fazer? Nem tinha 20 anos e mal sabia cuidar de mim mesma. E agora esse aluno. Perguntei ao Gerry Valente, meu colega mineiro de Águas da Prata e o último teacher do aluno. Gerry disse, "Dá sua aula como sempre dá. O cara é um gênio! Ele vai te surpreender!"
Pois é. O rapaz tinha paralisia cerebral, tremia muito, demorava dois minutos para falar uma palavra ... mas ele entendia tudo! Aprendia tudo! Apenas reservei 5 minutos de cada aula para que ele se expressasse em inglês e exigi que escrevesse um texto para ser lido por um colega a cada aula. Funcionou. E lá fomos nós rumo a mais um estágio.
Os desafios continuaram. Veio a Regininha, uma adolescente anã que nem enxerguei direito quando ela abriu a porta da casa. Pensei que a porta fosse automática, mas aí ouvi uma voz bem baixinha e doce, "Olá Professora! Sou a Regininha!" Ela era verdadeiramente uma Regininha. Esse encontro seria o meu primeiro com uma anã. Quem havia me recomendado para aula de reforço para o vestibular para Regininha foi a futura cunhada dela, minha vizinha, que nem se quer me disse que a Regininha era 'especial'. O meu psicológico não estava preparado, mas me esforcei para fluir com a situação. Só fiquei de saia justa quando a Regininha me pediu para pegá-la no colo e senta-la na poltrona da biblioteca. Suei de tanto medo ao pensar que poderia machucar ou quebrar a menina, mas ela riu e disse, "Pode me pegar no colo. Sou quase um bebê, só que com peitos." Peguei a Regininha no colo. Ela não quebrou e eu pensei comigo mesma, "Como fui boba."
Os desafios não pararam na Regininha.
Continuam chegando e as vezes não é eu não saber como lidar com a situação, mas se os pais vão aceitar a minha forma de lecionar e se vão colaborar comigo.
O livro 'Anjos de Barro' do José Maria Mayrink, foi escrito nos anos '80. Me ajudou muito a entender as pessoas especiais, seus pais e irmãos. Passei o livro para uma aluna que é viúva e tem uma filha especial. Depois de ler a obra do Mayrink, ela mudou algumas coisas em sua vida e na da filha e o dia a dia delas ficou bem melhor. O livro? Está sendo repassado até hoje. 🙏