O AMICÃO DA PRAIA

O AMICÃO DA PRAIA

Eu o encontrei na praia, caminhando lentamente igual ao sol que declinava no horizonte, naquela aprazível tarde de verão. Foi na cidade de Mongaguá, litoral paulista. Seu olhar amoroso me fez relembrar de um antigo companheiro, que conosco conviveu por 15 anos. Era um filhote quando o levei para casa, antevendo a alegria das filhas (na época com 7, 9 e 11 anos). Era pequenino, peludo e o dono da loja me disse: "É de raça indefinida. A cadela deu cria no meio do mato, não sabiam quem era o dono e a trouxeram para cá. Tratei dela e dos filhotes." Eu nem imaginava que aquela bolinha de pêlo tinha entre seus ancestrais um Labrador. Eu morava em apartamento e ele cresceu muito rápido. Tive que alojar meu querido "Pingo" nos fundos do meu escritório, próximo de casa, em uma rua transversal. Da varanda do apartamento era possível visualizar o pingo reinando no amplo quintal e recebendo afagos dos vizinhos, pelo gradil do portão. Mas voltando à praia, eu e "Praiano" fizemos amizade de imediato. Ao me aproximar, ele parou e aguardou o afagar carinhoso. Tive a impressão que ele até suspirou. Certamente estava carente. Os idosos nem sempre conseguem se cercar de pessoas que se preocupem com eles. Muitos cães idosos são cruelmente abandonados nas estradas e bairros distantes. Segui caminhando com ele pela praia e momentos antes de anoitecer ele deu meia volta e retornou. Eu o segui, acariciando sua cabeça e dorso ao longo da caminhada. Ele saiu da praia em direção ao casario. Havia alguns garotos alí e perguntei quem era o dono. Disseram que não tinha dono, ficava alguns dias na casa de um, depois na casa de outro. Vários moradores o alimentavam e abrigavam, mas ele ficava uns dias na casa de cada um. Nesse meio tempo Praiano seguiu na frente e eu observei onde ele parou. Latiu um pouco e vieram abrir o portão. No dia seguinte logo cedo passei defronte a casa, o portão estava entreaberto, mas nem sinal do Praiano. Fui até a praia e lá estava ele, sentado nas patas trazeiras, próximo à escadinha de concreto que da calçada dava acesso à praia. Novamente eu o acariciei e ele seguiu na direção do mar. Eu junto. Perto da areia molhada havia muita gente caminhando, a maioria idosos. Caminhamos uns dois quilômetros, até o Praiano dar meia volta, bruscamente, e voltar. Assim foi por alguns dias. Tive que retornar à Capital-SP. Voltei depois de duas semanas e não encontrei mais o Praiano. Perguntei nas casas onde ele costumava ficar, disserram que havia sumido. Os semblantes demonstravam tristeza. Uma das senhoras até chorou quando eu perguntei por ele. Nem preciso dizer que eu também fui às lágrimas. Naquele momento o marido, que estava sentado na varanda, nos observando sem nada dizer, se levantou com dificuldade e veio “caminhando lentamente” até portão, consolar sua esposa. Trocamos algumas palavras, eu descrevi com havia conhecido o Praiano, eles disseram que o chamavam de Bonitão e que cada morador que o abrigava lhe dera um apelido. Em seguida me convidaram para um café e eu ganhei dois novos e amorosos amigos. Comigo restou a imagem do Praiano em algumas fotos e ele contínua vívido em minha lembrança.

(Autoria: Juares de Marcos Jardim / Santo André Sacy - São Paulo-SP)

(© J. M. Jardim - Direitos reservados - Lei Federal 9610/98)

Juares de Marcos Jardim
Enviado por Juares de Marcos Jardim em 27/01/2020
Código do texto: T6851308
Classificação de conteúdo: seguro