O CANTAR DO GALO

O galo tem cantado há dias, aliás, galos têm cantado. Mas não é o cantar festivo de anúncio do novo dia que chega, pelo contrário, é um cantar longo e triste que acontece no decorrer do dia. Os galos parecem transmitir uma mensagem de abatimento pelo espaço e, tão logo um recebe já passa adiante, e assim eles levam a notícia.

Desde crianças, quando isso acontecia, a nona já perguntava: “- Quem será que morreu?” Não demorava muito, o sino da igreja matriz já começava o seu badalar de lamento e, aos poucos, a notícia se espalhava sobre o compadre ou a comadre que havia ido morar com Deus.

Tal costume era hereditário, pois um dia o galo cantou para a nona também e ela também partiu deste mundo. Minha mãe conservou o hábito que compartilha comigo e hoje, ao almoço, com o cantar do galo no quintal do vizinho e a resposta do outro lá no outro quarteirão, perguntei à minha mãe: “- Ih, quem será que vai hoje?” Minha mãe, muito sábia em seus 86 anos, respondeu:

“- Já foi ontem. A Dona Maria disse que é a mãe daquela mulher que tem aquelas meninas que passam aqui na frente sempre, mas não sei quem é.”

Fiquei na mesma, contudo, os galos não falharam! Porque galo bom de notícia é assim: cantou, morreu!

Suely Buosi
Enviado por Suely Buosi em 26/01/2020
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