Toda forma de amor é sagrada

O amor é algo grandioso demais para caber em modelos ou padrões rígidos. Uma das grandes conquistas de nossa civilização recente foi o reconhecimento (não digo “descoberta” porque elas já existem desde que o mundo é mundo) das várias formas de amar. É certo que houve a predominância de um modelo específico baseado em referenciais religiosos e morais pouco flexíveis. Embora tendo sido construídos ao longo do tempo, por serem tão normativos, conseguem a proeza de parecer eternos. Como se família fosse “sempre” formada por um casal heterossexual com filhos etc., etc.

Ocorre que assim como o afeto é múltiplo e variado também a família pode ser diversa. Ela pode se constituir das mais distintas formas. Se fosse necessário uma regra básica, qual deveríamos escolher? Pelo bom senso, que a família, constituindo-se da forma com seus integrantes bem desejarem, seja o espaço do cuidado e da ternura e que, havendo filhos, os laços propiciem o crescimento saudável da criança e sua educação cidadã.

As religiões demoram muito a mudar. É preciso compreender: os líderes religiosos tem medo da mudança e, quase sempre, estão mais preocupados em fortalecer sua instituição e justificar seu lugar nelas do que com a propagação de um modo de vida mais pleno. Só que as coisas mudam sem que dependam deles.

Os políticos reacionários, do seu turno, gostam de normatizar como deve se configurar a família. Não gostam de gays, de lésbicas, de trans etc. Não aceitam nenhuma maneira de vivência sexual/afetiva/amorosa que seja distinta da que consideram padrão. E quem estabeleceu que sua visão-padrão é a que deve ser seguida? Resposta: eles mesmos... Essas figuras expressam a insegurança com o diferente, o medo do outro.

A sorte é que o amor não obedece nem à religião, nem aos políticos: ele é livre como o vento. A visão reacionária sempre há de pintar por aí, assim como líderes, pastores e padres amargos e mal-amados.

Não é no aguardo de que tais figuras se resolvam que devemos depositar nossas forças e sim forjando novas, múltiplas e criativas formas de núcleo familiar. No cotidiano de famílias arejadas combateremos a ignorância, o obscurantismo e a intolerância. E educaremos crianças mais livres.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 23/01/2020
Reeditado em 23/01/2020
Código do texto: T6848938
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