Chuva Madrugadeira
A chuva acordou-me no meio da noite, só porque mudou o ritmo. Suas notas de chuva são delicadas, cheias de bolhinhas estourando, difusas. Acalma-me a alma, rega-a com a água bendita que cai do céu. Ela veio atiçando todos os sentidos do poeta, que a lê no seu odor inicial; na sua cantiga inconfundível de chuva, em notas rápidas ou espaçadas, como agora; na deliciosa visão dos incontáveis pingos na janela, brilhantes quando a luz da energia elétrica bate nela. Corro e abro a janela só para me misturar com ela na paisagem líquida e fluida. A enxurrada desce a rua da minha casa, fazendo dois rios caudalosos nas sanjas paralelas da rua. E a criança arteira que mora em mim pensa que podia ter nas mãos uma coleção de barquinhos de papel para soltá-los em viagem náutica. Recebo no corpo todo o ar fresco e gostoso, que é como receber na boca uma bala de hortelã...