NICOLE
Encerrando adolescência eu conheci a Nicole. No início ela era estranha, pra mim. Eu tinha uma tendência a curtir mulheres corpulentas. Mas Nicole era magérrima, tinha seios, curvas, mas era magra demais. Ela tinha descendência indiana ou algo assim… seu cabelo era muito preto e enorme. Pele branca se misturando com olhos negros enormes, nariz pontudo e sobrancelhas também muito pretas. Ela era fechada, misteriosa, falava pouco e eu jamais imaginaria que pudesse ter chance com ela, até porque quando a conheci, fiquei duas vezes com uma amiga dela, e foi a própria Nicole quem “armou” a zorra toda. Portanto éramos amigos, curtíamos de rock, odiávamos a playboyzada do condomínio… eu conseguia fazê-la rir, o que não era nada fácil. Nicole ria levando a mão à boca, escondendo dentes perfeitos de um sorriso terno. Era maravilhoso vê-la sorrir.
Certa noite eu queria ir numa loja comprar Cd e encontrei no caminho. Fomos conversando sobre um tal novo namorado dela; Eu estava fazendo o que mais faço na vida: Ouvir e fingir que me importo. Enquanto pensava obsessivamente num disco duplo dos Rolling Stones.
Uma amiga de Nicole também estava com a gente: Gabi. Eu carregava comigo a crença de que poderia namorar com Gabi, só pelo fato de termos muita coisa em comum. Éramos peças raras num condomínio burgues… Adolescentes infelizes, sem voz, achávamos todas as pessoas retardadas, mas Gabi e eu optávamos pelo bom humor e o sarcasmo. Já Nicole... ah... Nicole ia ficando cada vez mais infeliz, cada vez mais linda e apática com suas roupas eternamente descoloridas, a mais adorável maníaco-depressiva da rua, bairro, cidade, talvez do mundo (certamente do meu mundo).
Quando voltamos, nos despedimos e a Gabi já tinha ido pra casa. Em vez do “tchau” de sempre, Nicole veio até mim, me deu dois beijos na bochecha, seguido de um beijo na boca estalado. Ela se virou sussurrando “vamos, não temos muito tempo”. Parecendo uma criminosa. Eu? Ué... Fui correndo atrás dela, uai. Tentei não ficar sorrindo que nem um baboca, mas estava muito feliz. Tudo ia divinamente bem naquele ano, naquele dia em que eu não esperava mais nada, eu tinha conseguido meu Cd dos Stones… e tinha conseguido uns minutos com a garota mais bonita do mundo! Ela me beijava alucinadamente e sem o menor carinho, doida de pressa e a gente se apertava como se quiséssemos atravessar um ao outro. Totalmente demais.
No dia seguinte nos falamos como se nada tivesse acontecido e ela estava firme com o namorado. Eu muito apático na época… talvez ela tivesse se importado, eu não sei, nunca perguntei. Meu Deus, qual CD eu teria de comprar pra saber? (risos). Mas… falando sério… O pior de ter que crescer… É lembrar de pessoas que perdemos contato… Sem nem se dar conta de como ou quando, isso acabou acontecendo…