As peripécias de Haroldo

Haroldo sempre foi um bon vivant, um boa praça, aquele tipo de pessoa que consegue se fazer presente nos locais por onde passa, boa lábia se nascesse no Rio de Janeiro seria o perfeito malandro, mas o cidadão era Curitibano nato, filho de pastor da igreja quadrangular, mas errante por natureza, se havia um rolo, lá estava ele.

Nos final dos anos setenta e inicio dos anos oitenta com algumas influencias conseguiu entrar no Banestado, O bicho era recém casado com um filho pequeno, carnaval chegando e Haroldo desesperado pois todos os amigos de boemia já estavam se preparando para a gandaia, ele não podia ficar de fora, mas fazer o que??? Haroldo era pescador e como não era mas dá balburdia disse para a esposa que iria pescar com uns amigos que viriam da Bahia, passou a semana inteira arrumando as tralhas limpando tudo conferindo as iscas e na sexta feira ajeitou tudo no carro, beijo na patroa e lá se foi com o compromisso afirmado perante a sogra de retornar no domingo, a sogra como sempre desconfiada fala a filha - Esse malandro não vai pescar nada !!! - Vai é pra bagunça !!! - Que é isso mamãe? - vai nada! - A senhora vai ver!

Chegou domingo e nada, segunda e nada, terça e nada. Na quarta-feira chegou Haroldo cabisbaixo, cara de triste , cansado, e foi logo dizendo por favor não faça juízo de mim, deu tudo errado, a pescaria foi um fiasco, perdi um amigo e estou chegando da Bahia, pois tive que acompanhar o corpo do Arnaldo e fiquei para o enterro. Estou arrebentado. Claro que a historia não colou, a sogra era quem mais falava. _ Eu disse, eu avisei é um malandro, devia estar por ai com a mulherada, na bagunça. Haroldo contou para a mulher e a sogra que durante a pescaria o amigo baiano Arnaldo cairá no mar e teria se afogado e ele prestativo que era foi acompanhando o corpo até Salvador e cuidado dos tramites para o enterro. Ninguém acreditou entre xingamentos nosso amigo passou a dormir na sala, café então, só na padaria, a mulher não lhe dirigia a palavra e a sogra só esconjurando.

Passaram-se umas duas semanas e o carteiro batendo palmas no portão. -Bom dia senhora tenho um telegrama pro senhor Haroldo,telegrama?

Sim e é da Bahia. Mamãe olhe. Vamos abrir. - Lá dentro poucas palavras, mas eram de agradecimento " Senhor Haroldo. Nós familiares do saudoso Arnaldo não temos palavras para lhe agradecer, por ter o senhor nos amparado nessa hora difícil pela qual passamos". Olhe Mamãe era verdade, ele não mentiu, -prepare uma janta pra ele minha filha como pedido de desculpas. Haroldo voltou a reinar, a sogra se desculpou e tudo ficou bem naquela família, roupa passada, terno engomado, até o sapato brilhando.

Anos depois Haroldo separado da esposa se encontra com ela para acertar algumas coisas da filha pequena e resolve contar a verdade. que toda aquela estoria teria sido inventada por ele para poder passar o carnaval com os amigos, dava para ver o ódio nos olhos da mulher, então ela falou - não vou contar para minha mãe, pois se ela souber na certa é caixão.

Sergio Nogueira
Enviado por Sergio Nogueira em 23/01/2020
Código do texto: T6848313
Classificação de conteúdo: seguro