Içar velas
Já passou da hora de viajar nas asas do vento e desfolhar o melhor da vida. Sei que o tempo está nublado, com possibilidades de temporal, rajadas de tristezas, trovão de raiva, e raios de infelicidade. A previsão é de tempestade; maré cheia de recordações, e o mar não está pra peixe, melhor não navegar. Principalmente, quando o marujo não tem permissão para embarcar; a sua licença está vencida, a bússola quebrada, e as estrelas apagaram a luz que indicava a direção. Nada para salvá-lo, sequer, um colete salva-vidas; já passou da hora dele aposentar o leme. Mas como todo pescador de ilusão tem esperança, um bom passatempo é contar histórias presas na memória, e esperar a estação da calmaria. Atracado ao passado, as horas perdem-se nos momentos sem rota, e naufragam num porto de solidão. Mais uma vez sem norte, de repente muda a sorte, e escrever no seu diário de bordo é uma possível solução. O corpo está à deriva; içar velas não precisa, pois a mente marola poesia de cortesia para ancorar o velho coração. E, nessa onda, já passou da hora de surfar por águas tranquilas, sem brumas, sem mitologia, apenas contemplando os fenômenos da natureza. De preferência, com uma câmera fotográfica para capturar o melhor ângulo e deletar as imagens desfocadas, aquelas que não serão postadas, muito menos, curtidas.