UMA CASAL DE ESTÁTUAS (folheadas a ouro)

Chove… e ao meu lado um casal está numa espécie de “noite de sair juntos”, mas eles já se perderam. São dois representantes do Deus Tédio na Terra. São inúteis. Ele fala em dinheiro o tempo inteiro e ela mal fala. Transições, tramoias, manipulação e brigas no trabalho. Só para, no final ele dizer que humilhou um tal fulano com seus pertences comprados…

Eu gosto de algumas coisas da Freud justamente por isso… o homem agia como se tivesse saído metendo o dedo no cu de todas as pessoas que conhecia e isso parecia funcionar - em certa medida - pra ela… No final das contas eu sempre volto a dizer que é o poder que importa. E não importa de onde ele vem…

O homem olhou o celular e depois o guardou (vale ressaltar que os dois não eram nem um pouco atraentes) e ela deu uma meia crise de ciúme “quem era????”, ele explicou de um jeito meio fajuto, sua voz ficou mais baixa do que já estava… dava pra sentir o seu medo. Não… o seu PAVOR. “Ele ESTÁ te traindo… moça burra.”, pensei bocejando na mesa ao lado (enquanto aguardava minha Yakissoba), “Tomara que seja mesmo , se não você ver!”, ela sussurrou, mas a agressividade estava presente, e rapidamente quase destruiu o oceano de tédio entre os dois.

Aquele mínimo de ciúme foi a única demonstração de amor que eu vi no casal. Mas… é claro… eu só fiquei uns minutos… e quem sou eu pra falar?