DOR COMPARTILHADA É DOR AMENIZADA


Ontem, ao conversar com uma amiga muito especial, que está vivendo a fase do luto, pela perda de sua mãe, acabei por me emocionar, e lembrei de um fato que ocorreu comigo, depois que minha avó morreu.

Na época, fazia dois dias somente, que eu havia assistido partir, a pessoa com quem mais tempo eu tinha convivido em minha vida. Tínhamos uma ligação imensa, laços de profundo afeto nos unia.
Ela morreu em meus braços, em minha casa, que era também, a casa dela.
Mas, obrigações me chamavam, e precisei ir ao mercado.
Ao passar por uma prateleira de fraldas geriátricas, automaticamente, minhas mãos apanharam um pacote, e colocaram no carrinho de compras, quando fui pegar o segundo pacote, me dei conta de que ela, minha doce velhinha, já não precisava mais usá-las.
Antes de conseguir devolver as fradas na prateleira, cai num choro, ali no meio do mercado.
Algumas pessoas bondosas, se acercaram de mim, e  me perguntaram se eu estava sentindo algum mal estar, ou dor. Em meio ao pranto, consegui murmurar que sim, uma dor aguda no coração, de tanta saudade.

Sempre que posso, escrevo sobre as perdas, e a fase do luto.
Sei bem como é difícil e delicado esse período.
Comecei a viver a perda muito cedo em minha vida.
E por isso, voltei-me para estudar o luto, e as consequências, se não o vivenciamos integralmente  em nosso íntimo.

Ter o conhecimento dos efeitos dessa fase em nossas emoções, a "possível" (não necessária) depressão que podemos vir a ter, em consequência da perda, faz uma diferença imensa, para transpor esse período.
Saber que nosso estado de ânimo, assim como nosso humor, varia muito num mesmo dia, e que é preciso ter paciência conosco. Muita paciência.
Saber que a tristeza que se apodera de nós é natural. Mesmo tendo fé, e acreditando  que a vida continua (se tivermos essa crença) assim mesmo a ausência pesa.
A saudade é uma constante e enche nossos dias de uma nostalgia, que parece que nunca vai passar.
Mas, saber que essa fase passa, e ter confiança, que ela um dia acaba, faz toda diferença.

Mesmo detendo um certo conhecimento por estudar as perdas e o luto, há muito tempo, eu não estava imune de viver todo o processo, quando perdi minha avó.
Mas, foi esse mesmo conhecimento que me ajudou a perceber cada fase que eu adentrava, e cuidar para que a depressão não se aprofundasse em mim. Porém, não consegui impedir que ela me abraçasse  ao menos de leve, por um período.

Na época, que minha avó morreu, eu estava à frente de um grupo, destinado a ajudar pessoas que passavam por surto de Depressão grave.
E muitas vezes, fui fazer as palestras, sentindo muitos dos sintomas que fecham um quadro depressivo. Então, olhava aquelas mais de 100 pessoas, que vinham para assistir as paletras, e no momento passavam pela fase do luto, com uma EMPATIA, muito grande, e me esforçava para oferecer a elas, o melhor que podia.
Naquele momento eu conhecia na prática o que antes só sabia em teoria, pois eu também, vivia um periodo de luto.

Fazia muito tempo que eu estudava e falava sobre a
Depressão, a grupos de portadores dessa doença, mas, nunca havia sentido a depressão em mim.
Se, até então, eu já tinha por todos eles um carinho e uma simpatia especial, por saber o quanto é delicado esse transtorno do Humor, o quanto ele altera o ânimo e as emoções, a partir do momento que senti em mim os sintomas, decorrente do processo de luto que passava, minha simpatia se transformou em EMPATIA.

Hoje, continuo a escrever e a palestrar, sobre  a dor da perda de um ente querido, sobre o luto, e a depressão.

E digo que, falar, escrever, conversar, ouvir palestras sobre o tema, ganhar conhecimento sobre o assunto, traz alívio, para um momento delicado de nossas vidas.
Ajuda muito a processar o luto.

Morrer é um fato comum a todos nós. Pena que mesmo sabendo disso, nos preparamos tão pouco, e tão precariamente para viver a perda de nossos entes queridos, e para vivenciar o luto decorrente dela.

É muito importante saber que, há lenitivos para amenizar o período de luto, a Fé cultivada em bases sólidas, age feito um algodão sobre a dor da perda, isso é fato pesquisado e comprovado pela ciência.
Outro fator importante que ajuda de maneira efetiva a atrevessar o período  do luto, é entender que, a dor "Compartilhada é dor Amenizada". Constato isso de perto, ao palestrar para grupos de pessoas que vivem a dor imensa do luto por um familiar. 

Imagem: Lenapena (Central Park)


 
Lenapena
Enviado por Lenapena em 22/01/2020
Reeditado em 22/01/2020
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