ENTRAVES DA IDADE
O bom observador não “come barriga”, como se fala na gíria. Não deixa passar nada despercebido, principalmente se acontece diante de seus olhos, e lhe diz respeito, ainda que indiretamente. Com a Dona Cláudia, não era diferente.
De uns tempos para cá, ela vinha notando que estava sendo deixada de lado nas rodas de conversa dos familiares, principalmente das filhas e do neto (era avó de três, porém só um era adulto), que sempre tinha um celular em mãos, o que o impedia, quem sabe propositalmente, de ter que responder às suas perguntas que certamente, não tinha nada a ver com seus assuntos de jovem médico.
Nesse campo observatoriante, como por certo diria o Prefeito Odorico Paraguaçu, personagem de Paulo Gracindo, na novela O Bem-Amado, veiculada nos anos 70, essa amável senhora sente que dia após dia, vai se tornando invisível, para os olhos dos entes queridos. Suas opiniões, seus conselhos, sua sapiência de nada serve, quando se trata de participar dos assuntos diários dos familiares mais próximos.
Ela sente-se solitária, embora esteja entre esses amados que, tantas vezes foram embalados pelos seus braços amorosos, cheios de carinhos e cuidados especiais. A cada constatação dessa cruel realidade, Dona Cláudia sente que, sua história como membro com alguma importância dentro desse contexto, já virou passado, coisa irrelevante, sem nenhuma serventia.
Passados os anos e prestes a completar 70 anos, a vovó Cláudia, busca dentro de si, as lembranças dos pais, que já cumpriram sua história e retornaram à casa do Pai, os casamentos – dois – que juntos, duraram 43 anos, o nascimento das filhas, também duas, que muitas alegrias lhe proporcionaram, a chegada dos netos, amor indescritível, para levar em frente sua vida com a certeza de que cumpriu seu papel dentro do destino que lhe foi apresentado.