SEM MÁSCARAS, FICA MELHOR; OU...
As relações de poder entre os personagens causam o “gestus” brechtiano, ou melhor, a máscara social do personagem. Esta máscara social não precisa ser efetivamente um objeto para colocar no rosto, mas uma canção, uma palavra, uma atitude, ou um acessório cênico (ARAÚJO, s/d).
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Durante a campanha eleitoral de 2018, uma professora amiga minha que não gosta de discutir política me disse que iria esperar “esse homem ser eleito pra ver se ele é mesmo tudo isso que tão falando dele” – referindo-se ao atual presidente e às críticas dirigidas a ele, em especial as que o associavam a aspirações totalitaristas de inspiração nazifascista.
Não sei se ela lerá esse texto, nem se, na própria avaliação, sua espera ainda continua muito distante de uma conclusão. Mas creio que, como na antiga dramaturgia grega, à medida que as máscaras vão caindo, se torna mais fácil identificar o ator por trás do personagem.
Lindomar da Silva Araújo (s/d) ressalta os variados propósitos que as máscaras assumem nos diferentes momentos da história (Antiga, Média, Moderna e Contemporânea) e o peso simbólico que exercem no mundo social, especialmente nas relações de poder.
Para o autor “É importante ressaltar que o teatro grego era realizado a céu aberto, e para um público numeroso que ocupava a arquibancada escalonada em torno da orquestra circular. As máscaras também portavam grandes perucas, e no local em que se encaixava a boca havia uma espécie de cone que permitia uma maior propagação da voz” (destaques acrescidos).
Araújo esclarece também que, na Idade Média, as máscaras faziam “parte dos ‘mistérios’, forma de espetáculo fomentado pela igreja dominante com o intuito de propagar seus dogmas” e, na Era Moderna, durante as ‘farsas’ apresentadas nos castelos (...), a nobreza as usava como forma de nivelar os convidados presentes (destaque acrescido).
Não é nada sutil o emprego desse termo como metáfora do comportamento dissimulado de uma pessoa ou grupo social, especialmente quando tem por finalidade maior a ascensão e domínio do poder.
É imperativo perceber que a máscara (literal) era utilizada, como destaca o autor citado, para, entre outros fins: maior ampliação da voz, propagação de dogmas e nivelação das classes.
Será mesmo só coincidência que o Governo [e aliados] que foi eleito, “sob a vontade e bênção de Deus, para combater a doutrinação de viés ideológico comunista”, desde os primeiros dias de mandato, não cessa de atacar (e tentar censurar) a Imprensa, educadores, escritores (recomenda-se até a queima de livros), cientistas e variadas formas de artes e artistas?
“Heroísmo e aspirações do povo é o que queremos ver na Arte nacional”, diz o, agora, ex-secretário nacional de Cultura. Ora, se o Governo é contra a doutrinação por que quer o próprio (e não permitir que o povo defina) definir o tipo de Arte que o povo deve produzir e consumir?
A desculpa para a veiculação, em 2019, de vídeo promocional demonizando o comunismo e glamourizando o golpe de 31/64 é que foi um equívoco, embora tenha sido postado no canal oficial da Presidência, por um servidor oficial, concomitantemente com o Decreto presidencial que ordenava a comemoração da data.
Mas, e agora?
“Não há nada de errado com a frase”, rebate o ex-secretário. Por que o pedido de exoneração? Por que a aceitação, tão imediata, do pedido?
De fato, com a frase talvez não haja nada de errado. O erro, ou maledicência mesmo, está no propósito de quem a empregou.
Pode ser, no entanto que, a queda das máscaras, aos poucos, ajude pessoas como a minha amiga a elucidarem suas dúvidas. Sem máscaras, fica melhor para se identificar as reais motivações de quem tanto fez para obter o poder; ou, quem sabe, o efeito (o afastamento desse tipo de pensamento e pretensão) esperado pelos que se esforçam para arrancar as máscaras pode se mostrar contrário: ao invés de repelir pode atrair mais ainda – já que, agora, não resta dúvida – os que alegavam incerteza ou ignorância quanto ao processo em curso e as intenções de seus promotores.