REFLEXÕES

Estava na igreja católica e, ao olhar para o lado, bem ao fundo da nave, vi um velho confessionário, meio abandonado, já que hoje em dia, faz-se as confissões " face to face ". Sabem no que reparei? Naquela parte de madeira, já gasta pelo tempo, chamada de " genuflexório", lugar onde as pessoas se ajoelhavam para fazer sua confissão!

Quantas histórias ele poderia contar... falaria do filho pródigo, afastado de Deus, mas que deseja reconciliar-se com Ele, no entanto, desacostumado, doem-lhe os joelhos e quase cede ao impulso irresistível de sair correndo!...

Também narraria o caso daquela senhora da mais alta sociedade que, ao passar-se por fanática incrementadora da caridade, esconde uma vida dupla, nada regular...

Iria se recordar daquele chofer angustiado que, após pensar muito, resolve desabafar seu remorso e desespero por haver deixado no chão atirada como um montouro de lixo, a criancinha pobre que, involuntariamente, havia atropelado mas, com medo das consequencias, abandonou célere o local e, por causa disso, nunca mais pôde encarar seus filhos nos olhos...

Ele também contaria a triste confissão da prostituta amargurada, envelhecida pela vida e cujo desânimo só não é maior, ao recordar-se da genitora doente, para quem leva os remédios necessários todas as semanas...

Poderia até narrar, com certo pejo e tristeza, sobre aquela quase criança, menina com feições puras, que o havia enganado tanto ( sim, os genuflexórios aprendem, com o tempo, a conhecer as pessoas que ali chegavam ), ao relatar ao padre que havia tirado a vida de seu filho, antes mesmo dele nascer, pelas mãos criminosas que, por dinheiro, fazem disso uma infame profissão! E agora, ela quer saber se a criancinha tinha ido para o céu! Ó Deus, que impudica ingenuidade! Que desilusão!...

E agora, já velho, tão gasto pelos joelhos que pousaram sobre ele, apenas emudece, no silêncio do templo vazio, sem que ninguém se lembre de atirar-lhe um olhar de gratidão, ele, que tantas vezes serviu a muitos para se reconciliarem com o Pai Supremo...

Agora, só lhe resta chorar suas lágrimas de rezina, " per omnia secula seculorum "... Amém!...