Os dias voam

Os dias novamente desiguais...

Ele era um gigante guerreiro pois já não tinha a robustez porque o tempo passa. passa pra todo mundo que vem a este planeta chamado Terra.

Terra cheio de pessoas estranhas, terra de amizades no pano de fundo de sua infância. E por mencionar infância porque não recordar da pracinha cheio de amigos Edi,Jecélio,Quico,Formigão,Chiquinho o roleiro, entre outros. Era uma época boa. A pracinha ficava lotada. Era muitas as brincadeiras: pega-pega, polícia/ladrão,estrava-sela,esconde-esconde,peteca,bolinha de gude, fora as aulas de Educação Física ministrada pelo Paulinho que sonhava ser jogador de futebol. Em noites de verão as mães se reuniam na praça e ficavam proseando enquanto isto nós brincávamos com sorriso no rosto e uma brisa de vez enquanto para compensar o suor escorrendo pelo rosto e a camisa grudada no peito de suor. As 22 horas a mãe gritava: - Vamos embora! E então sem titubear corríamos felizes,cansado,mais já programando as brincadeiras de outros dias. Depois de um banho e um lanche o corpo espichava na cama e rápido já estava dormindo,descansando e crescendo. De vez enquanto ao ir ao banheiro pelas madrugadas deparava com o meu pai chegando da fábrica com um bigode bem aparato,forte,botina de aço e capacete azul. Minha mãe já pegava o uniforme do meu pai e já deixava de molho no tanque. O tempo passou... a pracinha nunca foi mais a mesma. Não por falta de crianças, mais por conta da tecnologia. As crianças todas abarrotadas em suas casas com celulares nas mãos com o corpo esticado sobre o sofá ou uma cama. Algumas solitárias sentadas na calçada com o olhar fixo na tela do celular. No banco alguns homens enchendo a cara de cachaça, outros fumando e alguns cachorros espalhados pela grama. Uma meia luz deixa o ambiente mais sombrio e da um nó no peito sabendo que um dia pisamos ali.Se fechar os olhos por alguns minutos posso imaginar tudo como se entrasse numa máquina do tempo. Da janela posso observar os carros, carretas e motos passando pela estrada. Posso ouvir a batida do velho relógio em algarismos romanos soando 22 horas. Na escada que da acesso a igreja matriz a primeira fundada no município vejo minha filha sentada com um moreno alto, bem educado , sorriso no rosto e então volto novamente do passado e remeto ao presente. Pensamentos atirando para todos os lados: os medos, as incertezas , as dores , as decepções , a alegria, as tristezas , o amargo de janeiro , a saudade de casa , o calor escaldante. Olho para o céu estrelado e faço uma oração: - Deus, cuida da minha filha. que ela possa ser guiada pelo Senhor, e livra ela de todo mal, amém. Pareço navegar no meio de uma tempestade de pensamentos. Agora já não sou um menino indefeso, acordando a noite com medo do escuro e chamando a mãe para ficar ao seu lado. Agora sou um homem que já passou dos 40 e tem uma esposa e dois filhos e uma enorme responsabilidade. Já senti o gosto amargo das experiências da vida. Ainda era um menino quando sai pela primeira vez...na cidade grande com prédios iluminados por toda a parte, sirenes no ar , o pisca -pisca da Torre da avenida Paulista ao longe. Do terceiro andar sonhando.Os passeios pelo shopping, entre um " bombeirinho " e pernas cruzadas descendo a avenida Brigadeiro Luis Antônio. Saudades de casa e um aperto no peito. Não demorou muito para não aguentar a pressão da cidade grande, ônibus abarrotados, carros velozes, correria desenfreada, o operador do metrô anunciando: estação vergueiro. Correndo no Ibirapuera já tinha a corrida na veia. Momentos de boas risadas, de muitas pancadarias dentro do tatame, de pleno vigor físico, hormônios explodindo. Depois vem o término do ensino médio e a dispensa do quartel. E hora de trabalhar. Como se isto já não tivesse no seu sangue. Lajotas e sacos de cimento subindo e descendo morros, na boleio de um caminhão velho de cor amarela o motorista gente boa apelidado de careca e do lado um dos meus melhores amigos Edi. Edi era especial,brincalhão,divertido,sempre de bom humor, de risadas altas capaz de estremecer o mundo e contagiar quem estava a sua volta. Foi morar com Deus. Deixou quatro filhos. Um gigante. Na vida é assim, uns vão e outros vem. Ninguém sabe a hora da partida. Se soubesse seria triste. Já imaginou: - Eu amanhã as 19 horas vou morrer! Quem fica aqui continua a lida. Tem que deixar o seu legado. Tem que cair e levantar. Tem que chorar e sorrir. Tem que andar e correr. Tem que encantar uma sala de aula e despertar nas crianças a necessidade de estudar e crescer para conquistar ou perder,chorar e sofrer, decidir. No mundo fragilizado pela falta de contato físico. É preciso trabalhar o emocional e compreender que tanto o corpo faz parte da cabeça como a cabeça faz parte do corpo. É preciso fé em Deus. Os dias voam, e nunca mais vamos conseguir pega-los.

LUVI
Enviado por LUVI em 18/01/2020
Código do texto: T6844907
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