João vai à Padre Sarlen
A Academia Paraibana de Letras não vive somente a se preocupar, como conduta única, com coisas das letras, com esmero ortográfico, com metáforas e imagens, ao escrever as suas obras. Tampouco somente a admirar a literatura que já foi escrita ou a que está contida na sua rica biblioteca. Muitos dos acadêmicos, há tempo, ocupam-se com a história e a memória da cidade, onde vivem; do bairro no qual se situa sua Academia, logradouro denominado de Centro Histórico; das ruas Padre Sarlen e Duque de Caxias, que contornam a APL, e sobretudo da casa que abriga essa preciosa entidade, que tanto fascínio tem causado aos intelectuais, principalmente aos dedicados ao mundo da literatura; e que também tem emprestado o exemplo, que tomou para si da Academia Brasileira de Letras, a outras cidades e categorias profissionais das ciências para formarem suas próprias academias.
E na morada acadêmica em “taipa real”, sua gestão tem cuidado do seu piso, das suas grossas paredes, das suas galerias, das suas antigas portas e janelas, da sua biblioteca, do memorial, do seu arquejante telhado. Tudo isso, sem descuidar dos seus velhos móveis, das suas iluminação e decoração. Tanto é assim que, sem publicidade, a APL vem sendo visitada, supreendentemente, por paraibanos, estudantes e turistas, que registraram, no livro de visita, durante o ano de 2019, mais de onze mil admiradores. Mas, de longe, ela gritava duas constantes reclamações: A primeira é a de que o auditório deveria ser maior e no térreo; a segunda, que, não obstante sua beleza, ao lado, a rua Padre Sarlen afeia seu entorno, com duas ruínas que ameaçam os transeuntes e os que ali moram, com o permanente risco de desabamento. Muitas solicitações se sucederam a vários governadores, mas os pedidos de providência vinham sempre sendo protelados.
Há dias, Gonzaga Rodrigues e eu, já cansados de pedir, redigimos e assinamos ofício ao Governador João Azevêdo que, de pronto, determinou-se a resolver esse “histórico” problema. Ainda, tornou público, na entrevista concedida ao Conexão Master, que, em breve, entregará tais casas em ruína à APL para que elas se incorporem ao patrimônio da Academia, cirurgiando assim a fisionomia do Centro Histórico, que se demonstrava, principalmente aos turistas, tão desprezada. Tal boa nova motivou largo sorriso nos acadêmicos, que agora, em carta, coletivamente, agradecerão mais um ponderoso feito do Governador João Azevêdo, tanto para a memória, como para o embelezamento da cidade histórica, no coração da terceira cidade mais antiga do país.
Tal lúcida atitude governamental entra para a história, assim também como a criação do Museu da Cidade, na então residência de João Pessoa, na Praça da Independência; e ainda a abertura do Palácio da Redenção para que ele se torne rica e enorme pinacoteca estadual à visitação pública. Vi isso no Rio de Janeiro, onde o Palácio Guanabara, anteriormente conhecido por Paço Isabel, é lugar de trabalho para os governantes e, ao mesmo tempo, espaço de lazer cultural para o povo. Enquanto, João vai à Rua Padre Sarlen e leva consigo determinada providência, seu trabalho não cessa no mundo cultural, mundo esse que tem sido movimentado, especialmente, de modo inédito, com forte e frequente apoio à cultura interiorana; e isso não tem diminuído as atividades culturais na Capital. Quanto ao desejo da APL, o que vinha sendo tão demorado e difícil tornou-se, pelo competente tirocínio do atual Governador, rápido e fácil. Que, desse modo, aja a Academia no trato com que lhe é doado. Agiremos, com certeza, esta será a manifestação da nossa imortal gratidão.