A VELHA BANHEIRA VERDE

Por um mês protelei jogar a velha banheira do Tutu fora. Já não servia mais, pois a água vazava e se esvaía, então coloquei na área de serviço para facilitar a tarefa de levá-la ao depósito de lixo do condomínio. Sempre que levava o lixo pensava "na próxima vez a banheira vai". E nunca ia. Pedi permissão à minha esposa: "posso jogar a banheira do Tutu fora?", com um mínimo de esperança que ela negasse, e ela, atarefada, respondeu com um " por mim, tudo bem". Hoje, mais de um mês depois, no silêncio da madrugada, desci finalmente com a banheira para a lixeira. Relutantemente, coloquei-a no depósito e dei as costas, mas no meio do caminho parei, voltei e fiquei olhando aquela velha banheira verde, com um remendo de plástico por onde a água vazava, última tentativa frustrada de fazê-la durar mais do que ela poderia. Lembrei-me do primeiro banho do nosso bebê, de como ele gostava de levar seus dinossauros, carrinhos e bonequinhos para tomar banho, e de como ele ria alegre a cada mergulho de algum brinquedo, dizendo "papai, olha só... tchibuuuum...". Uma coisa tão boba, jogar fora uma banheira que já não servia ao seu propósito, e no entanto, eu relutei em deixá-la ali, na semi-escuridão, como se ela, que tanto prazer tinha proporcionado ao nosso filho, pudesse se sentir abandonada. Até espiritualmente, aprendi que devemos jogar fora o velho para que o novo venha, e aquela banheira era um símbolo do bebê que o Tutu um dia foi e que agora não é mais, porque o tempo passa e os bebês crescem e viram crianças, mas por mais que eles tenham três anos e sete meses como o Tutu agora tem, ou cinco anos, ou quatorze anos, ou vinte e cinco anos, para quem é pai ou mãe os filhos sempre serão "nossos bebês". Confesso que escorreu um lágrima enquanto eu olhava aquela velha banheira verde colocada quase que carinhosamente no depósito de lixo por mim. Ele agora toma banho de balde, daqui a pouco vai tomar de chuveiro, e talvez, dentro de pouco tempo, nem tenha mais lembrança de que um dia teve uma banheira verde onde se divertia em banhos intermináveis... Porque o tempo passa, as fases mudam e eles crescem. E aquela banheira ali significava que o nosso bebê agora deixava de ser um bebê para se tornar um menino, mesmo contra a minha vontade. Agradeci silenciosamente àquela velha banheira verde por toda felicidade que havia nos proporcionado nesses mais de três anos em que ela fez parte da nossa rotina. Sim, eu sei. Com a idade a gente vai ficando com o coração mole.