Ao balanço da rede

Durante anos, em um Jornal regional, escrevi sobre futebol. Tenho pouco do que escrevi, até porque futebol é, embora nem sempre, tão efêmero que guardar o que foi dito não compensa, o que fica na memória são os gols espetaculares, os lances geniais, os títulos o resto, como tudo na vida, passa, inclusive a coluna, que se chamava “Ao balanço da rede”, e também passou.

Mas, dia desses, ouvindo um programa de rádio de uma grande emissora paulista - por falar em emissoras, recentemente, dei entrevista para uma emissora de televisão e, perguntado sobre tudo, creio que fui econômico ao falar sobre mim; interessa-me muito falar sobre as coisas que compõe o imaginário popular, isso sim.

Voltando ao “balanço da rede”, o Programa a que me referi estava sendo apresentado em uma rádio de enorme apelo popular, que tem em seu elenco o melhor e mais empolgante narrador de futebol (Oswaldo Maciel), quando um dos componentes do Programa, novato na área com certeza, disse que o “Santos F.C era um time comparável ao XV de Piracicaba e ao Botafogo de Ribeirão Preto, antes do surgimento do Pelé”. Com todo respeito aos dois times citados (sou um apaixonado pelo futebol interiorano, já disse isso no texto “Devoto de São Bento de Sorocaba”) dizer tal barbaridade é de uma irresponsabilidade absurda; quem tem um microfone nas mãos, que atinge tanta gente, poder pode, mas não deveria dizer tais disparates.

O Santos nasceu grande!

Já em 1930, os grandes de São Paulo (Santos, incluído, claro) tiveram jogadores convocados para a Seleção brasileira (estranhamente, contrariando o “conhecimento” do jornalista, XV de Piracicaba e Botafogo de Ribeirão Preto não cederam nenhum jogador para a dita Seleção) que disputaria a Copa no Uruguai; apenas Araken (do Santos, claro) disputou o torneio, não por culpa dos convocados, mas sim por idiossincrasias da direção amadora (até hoje) dos destinos do futebol brasileiro.

O Santos, tão grande quanto os demais times grandes paulistas, tinha enormes problemas para disputar campeonatos por causa das dificuldades de locomoção da cidade de Santos para outras cidades, daí percalços que aos outros foi amenizado; afinal a Via Anchieta ainda nem existia!

Antes do surgimento do Pelé – Pelé não fez o Santos; o Santos fez o Pelé – o time já era um esquadrão. Pelé foi inserido com inteligência e tato nesse esquadrão, no qual se destacou por ter um futebol incomparável, mas teria o mesmo sucesso em um time de menor qualidade?

Futebol, embora não pareça, é assunto sério, há que se ter responsabilidade para certas afirmações, afinal, existem milhares, milhões de novos torcedores em formação e, levar informações falsas a estes torcedores embrionários (que ainda não definiram claramente o time que acompanharão) é no mínimo uma forma de apequenar, não o time, pois isso seria impossível dada à dimensão que o Santos tem, mas o tema futebol que nos embala a todos seja em que balanço for, inclusive e principalmente ao balançar das redes.

Luizinho Trocate
Enviado por Luizinho Trocate em 16/01/2020
Reeditado em 22/01/2020
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