Rosas colhidas

Gostaria muito de me reportar às rosas que são colhidas nos jardins para serem entregues à mãe, à esposa, à professora. Mas de forma muito infeliz me reporto às rosas mães, mulheres, amigas, filhas vítimas de violência, que todos os dias são arrancadas precocemente do jardim da vida.

Logo pela manhã ligo a televisão, e lastimavelmente me deparo com muitas “rosas” estupradas, violentadas, coagidas, mortas das mais horrendas formas possíveis, estrangulamento, esquartejamento, afogamento... A misoginia virou parte da nossa realidade e nem nos damos conta, estamos ocupados demais vivendo uma vida virtual.

Maria em casa é agredida diariamente pelo marido que possui ciúme obsessivo, sai de casa na esperança de dias melhores e é assediada pelo chefe e pelo colega de trabalho. Já Mariana é abordada por um desconhecido, é estuprada e morta. Paula já “teve mais sorte”, apenas teve sua orelha decapitada. Até quando mulheres, pelo simples fato de serem mulheres – na mente machista, meros objetos - serão vítimas dessa herança cultural patriarcal e machista ao extremo?

No ano de 1997 Glória Perez, depois da perda trágica de sua filha, conseguiu mais de um milhão de assinaturas na tentativa de mudar a lei dos crimes hediondos, o que resultou em uma emenda popular e o homicídio qualificado foi incluído na lista dos crimes hediondos. No ano de 2006 em homenagem a Maria que ficara paraplégica devido às agressões sofridas pelo companheiro durante anos, foi promulgada a Lei Maria da Penha. Agora sim, uma lei específica que protege de fato as mulheres. Entretanto, os números não pararam de crescer. Já em 2015 foi publicada a Lei do Feminicídio, aumentando as penas para o agressor. Todavia os números ainda são alarmantes e muitas rosas são arrancadas do seu jardim.

É indiscutível a importância das leis em comento ao nosso meio, mas são insuficientes. Faz-se necessária mudança comportamental e social. Talvez a próxima vítima de um tombo da escada, ou do arranhão na parede, na batida sem querer nos móveis, já não esteja mais aqui para inventar uma nova desculpa. E o meu único desejo para o dia de hoje é que as “rosas” sejam cultivadas, regadas, amadas para que ao invés de sangue possam exalar seu perfume e colorir o jardim da existência.

Amanda Sbardelotto
Enviado por Amanda Sbardelotto em 16/01/2020
Reeditado em 16/01/2020
Código do texto: T6843063
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