Fim-do-mundo (BVIW)
Que o mundo é grande ele sempre soube. Mas a ideia de fim-do-mundo surgiu por acaso. Aos sete anos, viajou de ônibus pela primeira vez. Foi com a mãe a Aparecida do Norte cumprir promessa. A demora para chegar provocou uma sensação de lonjura, e isso fez surgir uma mudança no seu mundo de criança. Ao voltar para o interior não era mais o mesmo menino que não conhecia cidade. Tinha outros sonhos. Já que era pobre e nunca poderia ter automóvel, passou a sonhar em trabalhar, juntar recursos e por o pé na estrada, caminhar o tanto quanto fosse preciso para conhecer o fim-do-mundo. - É só ver e voltar. Deus me livre de passar do limite e cair no outro mundo! Porém, já adulto, Tilunga soube, de fontes seguras, que a Terra era redonda. Passou então a fazer certos questionamentos. - Em vez de andar numa reta, vou ter que andar em volta de uma megabola? Como se estivesse circunscrevendo uma roda gigante!? Ainda correndo o risco de andar, andar e chegar no mesmo lugar!
Embaralhou tudo na cabeça dele. Viu-se obrigado a conhecer o desapego. Abandonar seus planos e abraçar outros. Viu que fim-de-mundo é estória. Descobriu, a partir de novas reflexões, que os mistérios a serem desvendados não estão dispostos numa linha reta. Muito pelo contrário. O fio que liga começo-e-fim da vida é tortuoso, sem direção certa. A linearidade está apenas no calendário, no contar do tempo. E por isso devemos transitar pelo mundo sem pensar no fim. Senão a vida passa e nem conhecemos de que é feito o tijolinho chamado hoje. Por pouco Tilunga não enlouqueceu com essa história de fim-de-mundo. Antes de partir para uma outra dimensão, conheceu muita coisa interessante; errou, mas colheu a alegria de muitos acertos.