O Escriba.
Fui o interlocutor, um intermediário de muita gente quando criança, aqui, em Eldorado dos Carajás.
Como já disse anteriormente, em meados da década de 80, nossos únicos meios de comunicação com o mundo exterior eram uma agência dos Correios e um posto telefônico (que nem sempre funcionava).
Eu, um dos poucos cristãos alfabetizados na Vila Eldorado, escrevia muitas cartas, missivas de parente pra parente; principalmente pro interior do estado do Maranhão. Era bastante requisitado, tipo a Fernanda Montenegro em Central do Brasil...
Me chamavam pra escrever e, posteriormente, pra ler a resposta.
Dei boas e más notícias...
Lembro de ter dado notícia de nascimento, de falecimento, de batizado, noivado, casamento, separação, etc...
Passava por situações cômicas, engraçadas...
A mais hilariante foi quando aquela senhora que sempre pagava meus serviços com biscoitos recheados (vencidos), me chamou à sua casa...
Li em voz alta, pra pequena platéia que se encontrava na sala, que sua filha (que ela julgava ser virgem, ser pura) havia perdido a ''pureza'' e estava ''buchuda''.
Em meio a uma crise de fúria, a mulher disse que eu não sabia ler, que estava lendo errado e que não me daria o pacote de biscoitos (vencidos).
Memórias em vida...