Entre cães e gatos


          Quisera também gostar de cachorros. Não que os abomine. Prova disso é que, como bom sertanejo do Nordeste, procuro não chamá-los de cães. Cão, no sertão nordestino, adverte o escritor Gustavo Barroso, "significa outra coisa: cão é o diabo". Mas, não vou mentir, a eles ainda me não afeiçoei.
         
Como aconteceu, por exemplo, com Carlos Heitor Cony, pela sua cadela Mila; e com Graciliano Ramos, pela sua Baleia. 
          Comenta-se, que o velho Graça dispensava à sua cadelinha mais atenção e carinho do que aos amigos que o cercavam.
          A amizade com os caninos não se constrói da noite para o dia. O próprio Cony ressalta, que "muita literatura foi escrita para definir e explicar esta relação entre dois seres da natureza, um racional, como o homem, outro até aqui irracional, como o cão.           Uma relação que, como o samba de Noel Rosa, não se aprende no colégio. Há que vivê-la, deixar acontecer, pois fatalmente acontece".
          
E é Cony que, em crônica  publicada na imprensa nacional, acaba de tecer um inteligente comentário sobre o livro "Cão como nós", do escritor português Manuel Alegre. 
          Alegre conta a história de Kurika, seu cachorro de estimação, com o qual conviveu, em completa felicidade, durante muitos anos. Escreveu com saudade...  "Em capítulos curtos, precisos", Manuel, diz Cony, "evoca a ausência sempre presente de Kurika".
          E o autor de "O beijo da morte" aproveita o espaço para falar sobre sua Mila, destacando, entre outras coisas, que "no território da emoção absoluta, ela entendia minhas palavras e meu silêncio...", por treze longos anos.
          A leitura do prefácio do livro de Manuel Alegre, escrito por Carlos Heitor Cony,  e por ele transcrito na sua crônica, desperta na gente a vontade de cultivar uma amizade sincera e duradoura com os cachorros; até com os pitbulls.       
          Há pessoas que não gostam de cachorros, mas adoram  gatos.  Eu, nem dos angorás, gosto. 
          No seu belo livro "Terra de Sol", Gustavo Barroso se refere a Gautier e Zola, para dizer que eles "dedicaram páginas lindas às sedosas gatas de sua estimação."
          Sabe-se, agora, que um amigo dos gatos é o papa Bento XVI.  Pois é. Com autorização papal, a escritora italiana Jeanne Perego acaba de publicar um livro infantil intitulado "Joseph Ratzinger e Chico" - Un gatto recconta la vita di papa Benedeto XVI - numa tradução livre: Joseph Ratzinger e Chico - Um gato conta a vida do papa Bento XVI.
          
A história do bichano do papa Bento não é uma ficção. O gato existe, chama-se Chico, e vive na cidade alemã de Penting, onde Joseph Ratzinger morou, até se mudar para Roma.  É provável, que, a exemplo de Bento XVI, outros papas também tiveram seus bichinhos. 
         Fazendo uma rápida pesquisa, no livro "O Mundo Secreto dos Papas - De São Pedro a Bento XVI" , descobri que o bicho de estimação de Pio XII não era uma cãozinho nem um gato, era um canarinho; que o divertia, sobrevoando sua careca e seu nariz, para, em seguida, pousar, levemente, nos seus braços. 

          Creio, que, mais cedo ou mais tarde, os Psicólogos, depois de estudos criteriosos, deverão esclarecer por que o papa Ratzinger, um homem de posições firmes e polêmicas, prefere a companhia de um felinos...

     Nota - A foto é da capa do livro da escritora Jeanne Perego
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 07/10/2007
Reeditado em 05/11/2019
Código do texto: T684197
Classificação de conteúdo: seguro