144 - Cento e Quarenta e Quatro
Quando o nosso mundo é um palco e a vida que temos uma representação permanente ficam bem no nosso jardim flores de plástico. Afinal não é tudo a fingir? Muitas vezes na infância comi sem comer bolos de terra, bebi sem beber água da torneira por sopa, mastiguei sem mastigar pedaços de coisas inenarráveis que davam jeito ser carne ou peixe num almoço a brincar. Aprende-se muito por aí mas, uma vez crescidos, que seja a vida a verdade inteira, a beleza nua, a cor crua, o gesto genuíno. Já me falta paciência para recados que se escolhem prontos, para bonecos iguais para toda a gente, votos de bom dia, boa tarde, boa noite, boa semana. Tudo embrulhado em mediocridade e gosto duvidoso. E peço, sugiro, aviso, informo. Não quero ler, não respondo à massiva vontade de dizer o mesmo até à náusea. Sou, para algumas pessoas, o destino ideal de tolices standard. Procuro ser amável mas nunca hesito, no desespero de causa, em cortar o mal pela raiz.