NATAÇÃO DE SANTOS “DAS ANTIGAS”
NATAÇÃO DE SANTOS “DAS ANTIGAS”
Por considerar uma injustiça a demissão do nosso querido técnico de natação, Duda (José Eli para quem não sabe), escrevi uma carta à Diretoria do Clube de Regatas Tumiarú, de São Vicente, explanando a minha indignação e solicitando meu desligamento do quadro esportivo do clube. Lembro de uma das frases de efeito que coloquei na carta: “Prefiro defender outras cores do que aceitar essa injustiça.”. A missiva foi lida em reunião de diretoria e causou certa discussão. O Sizoca, pai do bom amigo Anadir Dias de Carvalho, era diretor do Tumiarú e lamentou minha saída. Sempre cordial, o sr. Sizoca desejou sucesso em meu futuro como atleta. Junto comigo foram outros nadadores: o meu grande amigo Sérgio Heleno, o Ubiratan de Moura, o Celso Fioravante. Duda foi convidado para ser auxiliar do Adalberto Mariani e fomos com ele nadar pelo glorioso Clube Internacional de Regatas, de Santos, que tinha uma marcante história na natação brasileira. Adalberto era uma lenda da natação santista, tanto como atleta e como técnico da Seleção Brasileira de Natação em competições internacionais. Para nós, vicentinos, nadar em Santos e em clube de expressão foi um progresso maravilhoso. Fomos superbem recebidos pelos nadadores santistas e em poucos dias nos sentimos em casa, participando da uma turma maravilhosa que meses atrás eram nossos ídolos e agora amigos que cultuamos até hoje com reuniões anuais e esporádicas. Adalberto havia implantado uma meta de que cada nadador deveria nadar quinhentos quilômetros em três meses em qualquer estilo. Isso equivalia a nadar oito mil metros todos os dias de terça a sexta e o sábado era reservado para “pagar” os dias em que o nadador não havia cumprido a meta. Isso, mais do que melhorar nossas performances criou uma forte ligação entre os nadadores. Tão forte que desde então nos reunimos no mínimo uma vez por ano e esses encontros são extremamente agradáveis, onde a conversa rola solta, como se o tempo não houvesse passado e não faltam brincadeiras e gozações. Independentemente da situação social e profissional de cada um, voltamos a ser moleques de beira de piscina, relembrando momentos de uma época maravilhosa, lamentamos os amigos que já partiram desta vida e atualizamos nossa conversa. Com esse treinamento intenso, todos nós melhoramos nossas marcas e a equipe do Inter tornou quase imbatível na região, chegando ter participação expressiva nos Campeonatos Paulistas. Na época, Santos era a cidade fora da capital melhor em quase todos os esportes e nos Jogos Abertos do Interior ganhava no computo geral, pois havia contagem de pontos e, no final era declarada qual cidade sagrara-se campeã dos Jogos. Nem imaginávamos estar ingressando na história esportiva de Santos, o que até hoje me sinto gratificado. É só falar que nadei no Inter “nas antigas” (como falam os jovens) e começam perguntas se conheci o Adalberto, se o Tuco (Adalberto Mariani Filho) era da nossa turma, se sou da época do Vladi, Canarinho, Pêpê, Zezinho, Marcino, Dagoberto Batocchio, Ademar Montebello, Davis Namia, Sérgio Heleno, Luís Sérgio, Otávio Abrantes, Betinho Amaral, e muitos outros. Respondo orgulhoso que sim, que nos vemos até hoje. Como nada é feito para preservar a memória em nosso país muitas pessoas não ouviram falar no Moacir Rebello, no João Augustinho de Almeida, Manoel dos Santos, Daltely Guimarães, Osmar, Antonio Di Renzo Filho e outros grandes nadadores que defenderam o Brasil em diversas competições. O valor desses atletas é muito grande, pois se tornaram campeões em uma época movidos única e exclusivamente por amor ao esporte, com muita dedicação, sem patrocínio, sem complementos nutricionais, sem equipamento para treino, etc. Manoel dos Santos foi o primeiro brasileiro a bater o recorde mundial dos cem metros livres com 53’ 06”. Moacir bateu todos os recordes da cidade, João Augustinho foi campeão sul-americano em nado costas, Di Renzo e Osmar participaram dos Jogos Pan-americanos. Como eles, muitos outros grandes atletas ficaram no esquecimento por não existir uma cultura de valorizar a memória desse pessoal. Nossa região contribuiu muito em todos os esportes com atletas geniais que ninguém ouviu falar. Mas isso acontece em todos os campos de atividades do Brasil. Na parte cultural então é notória a ignorância popular dos grandes vultos brasileiros.
É isso.
Paulo Miorim 13/01/2020