POR TERRAS AMAZÓNICAS I
POR TERRAS AMAZÓNICAS - PARTE I
Já na casa dos quarenta, entro para a Universidade; dois anos de psicologia na Lusófona, quatro de Medicina Natural na Escola Superior de Biologia e Saúde, um de especialização em Osteopatia; despeço-me da empresa em que desempenhava a função de Técnico Oficial de Contas, digo adeus à casa, ofereço alguns haveres, fico apenas com os livros e algumas roupas.
De mochila às costas, chego à Amazónia, (para especializar-me em Medicina Natural) mais concretamente a Xapuri. Levava uma única indicação - Ambulatório Hidroterápico Nova Vida, Km 147 da BR 319, estado do Acre, Brasil - informação obtida, no único contacto conseguido, em quatro meses de telefonemas, com Dona Mariquinha, Senhora da Floresta, como é conhecida.
Chegado a Xapuri, saio do ônibus que me levou até lá e sigo por um caminho de terra, que parecia levar-me até ao Horizonte, terra que tem um cheiro muito activo, exalando o bálsamo da natureza virgem, uma terra viva, que parece dar-me uma nova vida, que respirando profundamente parece entranhar-se-me no peito, passando a ser parte integrante do meu ser.
Num raio de quilómetros, nada se avistava a não ser arbustos, árvores, troncos queimados, tal como já acontecera em todo o percurso e que me fez lembrar um gigantesco cemitério do que havia sido uma floresta. As únicas almas vivas que pareciam existir por ali eram vacas, eu e borboletas.
Quanto às vacas, avistei milhares e milhares. Fazia doer o coração, tanto deveria ser o Metano que muito pior que o CO2, estaria a agravar, o chamado efeito estufa e o buraco na camada de ozono que envolve a Terra, para além da contaminação das águas por infiltrações até aos lençóis freáticos. No trajecto que me trouxe de Rio Branco, cerca de 150 quilómetros, eu vi mais vacas que em toda a minha vida.
Para contrastar, tive momentos de encantamento, ao cruzar-me com centenas de borboletas, as maiores e mais belas borboletas que já havia visto, de mil cores, que pareciam alegrar-se com a minha presença, dando-me as boas vindas. Elas não passavam por mim, elas deambulavam e pareciam dançar à minha volta.
Apesar do calor húmido que sentia, próprio do clima equatorial, o céu estava densamente povoado de nuvens negras, e apesar de ainda serem cinco da tarde já a noite se fazia anunciar, pensando eu para os meus botões, vou apanhar uma chuvada, sem me poder abrigar onde quer que seja e ainda fico toda a noite para aqui perdido, à mercê das cobras e onças, na ausência de quaisquer sinais de civilização.
Para piorar o cenário, chego a uma bifurcação sem saber para que lado me virar, mas na presença de dois caminhos, só me restava escolher aleatoriamente um deles, e seguir em frente até encontrar uma casa ou alguma pessoa. Depois de me fartar de andar e reparar que o caminho se estreitava, decidi voltar para trás, antes que a escuridão total me envolvesse.