Adam Smith
Quantas vezes você já ouviu um vendedor lhe dizer que tem, em casa, uma peça exatamente igual à que você está comprando, há mais de 10 anos, e que ela nunca deu problema, por vezes peça que está sendo lançada no mercado.
Eu só compro um sapato, quando ele é absolutamente confortável em meus pés, porém é tão comum o vendedor de calçados nos dizer... pode levar, ainda que esteja apertando um pouco, ele vai lacear com pouco uso.
Mesmo tendo gostado muito da camisa, eu sinto que ela aperta um pouco sob os braços, e lá vem a velha argumentação de que está na moda usar aquele modelo um pouco justo no corpo.
-Eu não tenho o seu número, mas experimenta essa aqui, a forma dela é bem maior que a tradicional.
Se déssemos ouvidos aos vendedores, fatalmente, nossa máquina de lavar seria uma “Santa Rita”, nossas cuecas esmagariam nossos testículos, nos condenando, para toda a eternidade, a nunca ter filhos, nossos calos nunca nos perdoariam por usarmos um sapato tão apertado, e o almoço no domingo seria um assado no restaurante Pingo de Pinga, a melhor costela da cidade, pelo menos é o anunciado.
Toda e qualquer armação de óculos por 49 reais, e é verdade, mas quando vai comprar descobre que tem que fazer a lente ali, e o preço da lente é de 49 mil reais.
Eu sei que vivemos num mercado da livre concorrência, onde prevalece a lei da oferta e da procura, e temos que aceitar toda a argumentação dos vendedores como lícitas, e com calma. Naquela oportunidade, o meu espírito apaziguador não resistiu: levei um carrinho de rolimã a um tapeceiro, para que ele colocasse um banco com almofadas, seria um presente carinhoso para o meu neto, foi então que o tapeceiro me disse que não poderia fazer por menos de 500 reais, pois o banco para carrinho de rolimã é o banco mais caro, que ele faz naquela oficina.
Eu não vou aqui repetir o palavrão que eu usei, e que me perdoe Adam Smith, mas aquele tapeceiro seria melhor reconhecido, pela torcida, se fosse um juiz de futebol.