A Favorita
Novelas, telenovelas, são brasileiras!
Surgiram em outros países, especialmente Cuba e México, mas a verdadeira excelência somente foi atingida no Brasil, portanto, assim como o Samba de raízes africanas e a Bossa Nova, que é a modernização do Jazz mesclado ao Samba, trata-se de um produto brasileiro.
Essa grande virada do dramalhão mexicano / cubano para o charme brasileiro aconteceu na Tupi com “Beto Rockfeller”, depois migrou para a Globo onde, com alguns escorregões no padrão de qualidade, permanece até hoje.
É surpreendente como foram apresentadas telenovelas de altíssimo nível de 1969 pra cá, cito entre aquelas obras que mais gostei, além do “Beto”, favoritíssima, “O casarão”, “O Bem Amado”, “Verão Vermelho”, “Bandeira dois”, “Avenida Brasil e “A Favorita”
Sobre “A Favorita”, quem lê meus textos e, inclusive, trecho de apresentação do meu último livro “Sobre a Terra” pensa em obsessão por esta trama; bom, não é!
Tenho, é claro, como todo escritor, algumas fixações, uma delas é Nelson Rodrigues, muito parcial em suas convicções, algumas ingênuas até, apesar de faltar pouco pra ser genial, que cravou uma frase muito repetida sobre solidariedade, discutível é evidente, na qual eu ouso mexer – e tirar o tom regionalista dado pelo escritor – como “pessoas, a grande maioria das pessoas, somente são solidárias consigo mesmas, o resto (aí sim mantenho o tom Rrodrigueano), é balela!”. Voltando à novela, em 2010, tive uma participação nesta produção levado por circunstâncias relacionadas ao meu trabalho que não é televisivo, mas voltado à conservação ambiental. Neste contato, com grande parte da equipe, além das questões de trabalho surgiam longos papos sobre cultura geral, o que é absolutamente corriqueiro quando a conversa envolve gente de teatro e afins. Vai daí que à época eu estava encenando enquanto educador, como Autor e Diretor, uma peça chamada “A transmigração” e alguns atores e um dos diretores de “A Favorita” conheceram meu texto, gostaram e fui guindado de forma meio clandestina a dar alguns pitacos na pegada da telenovela relacionados à inflexão, comportamento e tal, contribuindo na veracidade especialmente da continuidade, nunca no texto, claro, exclusividade da equipe de autores contratados para isso pela emissora.
A novela foi ao ar e, além da história muito legal, ficou pra mim como uma produção muito especial.
Ainda sobre este tempo, lembro-me de uma conversa com o Jackson Antunes quando ele disse “você nasceu no Sul de Minas Gerais, a parte que dá certo, eu não; nasci no norte de Minas onde, se há riqueza cultural, a pobreza do povo é assustadora” e concluiu pensativo, ao ler trecho de um dos meus textos - quem também gostaria de conhecer a forma como você escreve é o “seu” Boldrin.
É isso.